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sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Os riscos de investigar crimes ambientais

Esta matéria contém uma atualização feita em 22 de dezembro de 2023, sobre o destino do lixo gerado em Jaraguá do Sul, SC. Confira, mais abaixo:

A manhã de 29 de novembro de 2023 por pouco não protagonizou uma tragédia. Ao exercer meu trabalho de jornalismo investigativo para confirmar a continuidade de crime ambiental sendo cometido no Condomínio Aeronáutico Aeropark Vale Europeu, em Guaramirim, SC, fui perseguido por um suposto segurança do empreendimento. Confirmada a irregularidade com o registro de filmagens e fotografias (uma delas ilustra a capa da edição 848 do Jornal O Vizinho) dava, eu, seguimento a minha viagem quando surgiu atrás de mim um veículo em alta velocidade.

A capa da edição 848 do Jornal O Vizinho, além de reportagem sobre disputa por lixo de Jaraguá do Sul, traz matéria sobre a continuidade de crime ambiental em Guaramirim

A estrada que dá acesso ao portão de entrada do Aeropark é de chão e nesta manhã ainda era coberta por lama formada pelas intensas chuvas dos últimos dias agravada com alguns buracos bem fundos que obriga o motorista a fazer manobras e paradas para transpô-los. Foi nesse cenário que vi-me obrigado a acelerar para fugir de uma perseguição violenta com o homem no seu carro já ao meu lado portando um objeto numa das mãos e apontando para mim e gesticulando agressivamente na tentativa de obrigar-me a parar. Num reflexo natural de instinto de sobrevivência acelerei ainda mais. Todavia, a estrada extremamente escorregadia obrigou-me a diminuir a velocidade para evitar um acidente com o meu perseguidor, ou um capotamento às margens da via. Nisso, o homem me ultrapassa numa direção perigosíssima e pára à minha frente obstruindo passagem. Confesso que, se armado estivesse, eu sairia com arma em punho atirando no sujeito para preservar minha sobrevivência. Sorte daquele homem eu ser contra as armas.

O sujeito desce do carro e caminha em minha direção com o objeto numa das mãos. Espero pelo pior... Para meu alívio, tratava-se de um radiocomunicador. Mas, a tensão não diminui, pois o cidadão verbaliza com violência e apressa o passo para se aproximar de mim. Preparado para defender-me de uma agressão física fiquei em pé, fora do meu veículo, mas atrás da porta, ao lado do carro. No meio da discussão ele volta para o veículo dele, pega outro objeto e retorna em minha direção. Pensei: "Eu devia ter ficado quieto. Ele está ainda mais enfurecido e agora a coisa pode ser desastrosa". Então, pego meu celular e começo a filmar a cena. Mais uma vez um alívio. Era também o celular dele para fotografar a placa do meu carro. Satisfeito com sua abordagem o agressor volta ao seu veículo e deixa livre a estrada para eu seguir viagem. Contudo, mais à frente, outro motorista que vem em direção oposta ao meu trajeto dá sinais de que não vai me deixar passar.

Com adrenalina ainda às alturas, diminuo a velocidade e ele vem para cima de mim com seu veículo tão próximo que os dois retrovisores se chocam. Imediatamente paro com ele ao meu lado. Procuro suas mãos que estão ao volante. Era outro empregado do condomínio que veio ajudar o agressor anterior. Mas, este aparentava ser menos violento. Ao perguntar quem eu era identifiquei-me, ao que ouvi com uma entonação de grande espanto: "Ah!!! Então você é o jornalista Altamir Andrade?!?!?".

Nunca vi aqueles dois homens na minha vida. Mas o segundo já sabia de mim. Provavelmente teriam sido orientados a impedir-me do meu trabalho. Evitei alongar conversa e avisei-o que eu precisava fazer denúncia na delegacia. E prossegui minha viagem priorizando outra investigação, pois tinha ainda outras três cidades para visitar. A delegacia ficaria para depois...

Contra-capa da edição 848 do jornal traz reportagem sobre os riscos de impacto negativo para o turismo de Pomerode que deve ser rota do lixo de Jaraguá do Sul com destino ao aterro sanitário de Timbó

Produzir essa reportagem não foi das mais fáceis. Algumas personagens que eu havia elencado para entrevistar, apesar de contatos por email, telefone e mesmo pessoalmente, como foi o caso do prefeito de Pomerode, não me receberam. Da mesma forma com o diretor executivo do CIMVI que está em destaque na capa. Só consegui que ele me atendesse porque fiz plantão na recepção do empreendimento com horas de espera. Quando isso acontece, aguça meu faro jornalístico. O resultado da reportagem explica esse comportamento.

Página 02 da edição 848 explica porquê o jornal está sendo distribuído nos municípios de Jaraguá do Sul, Pomerode e Timbó

Há um ditado popular que diz: "Quem não deve, não teme". Foi o que deixou transparecer um dos entrevistados. O gerente do SAMAE de Jaraguá do Sul é uma dessas fontes raras no jornalismo. Muito tranquilo nas suas falas com respostas claras, convincentes e bem fundamentadas mantinha um tom de voz de segurança e expressões corporais nada agressivas, muito pelo contrário. Bem diferente do diretor do CIMVI.

Página 3 da edição 848 destaca na coluna ambientais que a prefeitura de Joinville tem facilitado crimes ambientais

A matéria em destaque na página 3 informa que a partir deste dia 01 de dezembro de 2023 a consagrada obra audiovisual "Maré de Conflitos" está acessível ao público em geral na internet. Se você ainda não assistiu, prepare a pipoca, chame a família e curta o filme.

Atualização sobre o destino do lixo gerado em Jaraguá do Sul

A reportagem sobre o lixo produzido pela população de Jaraguá do Sul, que seria destinado ao aterro de Timbó,  mostrou que o município de Pomerode poderia ser prejudicado com impactos negativos na sua economia local que tem o turismo como destaque. Em recente encontro do Instituto Viva a Cidade (IVC) e do Observatório Ambiental (OA) os ambientalistas concluíram que, assim como há exigência de Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV) deveria haver exigência de Estudo Prévio de Impacto de Trajeto (EIT). Mas, este é assunto para outro momento.

A matéria de capa publicada na edição 848 do Jornal O Vizinho, distribuído nos municípios de Jaraguá do Sul, Timbó e Pomerode, teve repercussão e, provavelmente, contribuiu para evitar que o lixo de Jaraguá do Sul estivesse sendo levado para Timbó desde o dia 11 deste mês de dezembro. Deve estar aliviada a população de Pomerode, principalmente os que atuam no setor do turismo, pois a imagem de dezenas caminhões carregados de lixo transitando por suas ruas é impensável para um município com tanta projeção nacional no setor turístico.

Segundo Deverson Simioni, a licitação foi suspensa para análise de qualificação econômica-financeira e técnica. "Tivemos que alterar o objeto permitindo subcontratação ou consórcio de empresas e foi firmado novo contrato emergencial com o Consórcio Jaraguá Limpeza Urbana", explica o Gerente de Resíduos do Samae de Jaraguá do Sul. O lixo continua sendo destinado ao aterro sanitário de Mafra, SC.

A decisão ainda não é definitiva e um novo destino se apresenta. Segundo Simioni, no médio prazo o cenário mudará com um novo aterro sanitário em operação no município de São João do Itaperiú, SC. "A distância será menor e provavelmente o custo também, para ser competitivo com os aterros próximos", projeta o engenheiro sanitarista.

Enquanto isso, o município de Jaraguá do Sul está finalizando estudos para a publicação de um edital de concessão ou Parceria Público Privada (PPP), o que também deverá agitar o setor.

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Uma arma à cabeça, um tiro. Jornalismo é profissão de risco

 


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Fundições descartam passivos ambientais em condomínio aeronáutico

A edição 846 do Jornal O Vizinho traz mais uma reportagem de capa denunciando dois grandes empreendimentos em Santa Catarina. O Aeropark Vale Europeu, em edificação no município de Guaramirim, e o aterro da Administradora de Bens Altona S.A., em Gaspar.

Capa da edição 846 do Jornal O Vizinho

Na contra-capa, a primeira manchete "Voo arriscado do Aeropark de Guaramirim" revela que o empreendimento está autorizado a receber quase dois milhões de toneladas de Contaminantes Industriais de Fundições (CIFs). Resíduos estes gerados por empresas de municípios vizinhos sendo, Franklin Electric Industrial de Motobombas S.A. de Araquari; Schulz S.A. e Nidec Global Appliance Brasil Ltda (Embraco), de Joinville.

Contra-capa da edição 846 do Jornal O Vizinho

A segunda manchete "Fundição despeja passivo ambiental em Gaspar" aponta que o aterro da futura instalação da Eletro Aço Altona S.A. está autorizado a receber 400 mil tonelas de resíduo produzido pela própria empresa em Blumenau.

Ao receber a denúncia de que as empresas estariam praticando crimes ambientais por extrapolar os respectivos licenciamentos concedidos pelo Instituto de Meio Ambiente (IMA), a Oscip ambientalista  Instituto Viva a Cidade (IVC) foi aos locais, constatou diversas irregularidades e protocolou denúncias no Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), sob os números 05.2022.00038682-9 e 05.2022.00038699-5.

Na capa da mesma edição do jornal a manchete "Crimes ambientais em Joinville foram confirmados", o veículo reporta outros dois crimes, de mesma natureza, também denunciados pelo Instituto Viva a Cidade (IVC). Tanto nos casos denunciados em Joinville quanto nos de Gaspar e Guaramirim os ambientalistas constatam a participação da empresa de consultoria joinvilense Nova Era Soluções Ambientais e autorizações duvidosas do próprio órgão licenciador estadual, IMA.

O advogado e ambientalista Giovanni Solletti diz que apesar de Santa Catarina ter uma legislação que permita alguns usos dos resíduos de fundições o grande problema está com o órgão estadual. "Além das autorizações serem concedidas, no mínimo em caráter duvidoso, o IMA não fiscaliza estes empreendimentos. Nós é que fazemos esse trabalho perigoso que deveria ser uma obrigação do Estado".

Mas, o IVC não atua somente com a investigação e denúncias de crimes ambientais. Apesar dessa forte identidade, desde a sua fundação, em 2008, a educação e conscientização ambiental é uma vertente da Oscip. Como se pode confirmar também no jornal.

Página inteira do jornal é dedicada à Oscip ambientalista

Maré de Conflitos é um documentário realizado pelo IVC e que tem estreias no mês de novembro em Joinville e dezembro em São Francisco do Sul. A obra cinematográfica tem o ecossistema da Baía Babitonga como foco e traz à tona os conflitos entre os pescadores artesanais e o excesso de empreendimentos portuários licenciados e ou em licenciamento na baía. O trailer do filme pode ser acessado no link de "Obras" do sítio www.ipeproducoes.com.br.
O Jornal O Vizinho, que prioriza temas relativos ao meio ambiente, nesta edição de outubro de 2022, tem artigo de associado do IVC no espaço do leitor com o tema "Sustentabilidade: teoria e prática".
Prioridade ao meio ambiente é marca do Jornal O Vizinho há 32 anos

A identidade ambientalista do jornal é, mais uma vez, destacada no editorial desta edição com o tema "Precisamos de governantes alinhados aos ODS" e destaca que "Investir no aumento do quadro de pessoal nos órgãos de fiscalização ambiental é mais que urgente".  

Reafirmando a parceria do IVC com o MPSC de Joinville, exemplares desta edição do jornal O Vizinho foram entregues, em mãos, à promotoria de meio ambiente.
Promotora de meio ambiente do Ministério Público de Santa Catarina (Joinville), 
Simone Cristina Schultz

A servidora, no exercício da sua função pública, tem atendido os voluntários da Oscip ambientalista nas ações que demandam orientação especializada no tema.

Saiba mais sobre o IVC neste blog:

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