terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Defensoria Social escolhe Joinville

Para marcar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, segunda-feira, a Defensoria Social, realiza eventos em Joinville, SC. O destaque do dia é a apresentação do Curso de Formação de Defensores e Defensoras Sociais para atuar junto ao TSI (Tribunal Social Internacional). Veja a programação e participe:

O dia 11/12/12, terça-feira, é dedicado ao "Tour Ambiental na Baía Babitonga e Arredores":
9h30 - Saída do hotel
10h00 - Praia do Vigorelli, Joinville, SC
10h30 - Travessia via ferry-boat para a Vila da Glória, parte continental de São Francisco do Sul, SC
11h30 - Travessia via ferry-boat para ilha de São Francisco do Sul

12h30 - Almoço no centro histórico de São Francisco do Sul
13h30 - Caminhada no centro histórico de São Francisco do Sul e visita ao Museu do Mar
14h30 - Partida para Araquari
15h00 - Visita ao centro histórico de Araquari e trapiche do rio Parati
15h30 - Partida para Joinville
16h00 - Ponte do Trabalhador e rio Cachoeira
16h30 - Visita aos bairros Boa Vista e Comasa nos arredores da Tupy Fundições S.A.
17h00 - Visita ao bairro Espinheiros com passagem pelo mangue cercado pela Tupy Fundições S.A.
17h30 - Visita ao trapiche do Espinheiros na Lagoa Saguaçu
18h00 - Retorno hotel

Ainda como evento da Semana Internacional dos Direitos Humanos 2012, o destaque da semana é o lançamento do livro "O GIGANTE acuado", conforme convite abaixo:


























quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Joelmir ajudou-me a optar pelo jornalismo

Foi casual, na Alemanha, em 1996. O encontro que tive com o jornalista Joelmir Beting, que faleceu nessa madrugada de 29 de novembro de 2012. 
Joelmir Beting e eu na Feira de Hannover, Alemanha, em abril de 1996

Ele iniciou atuação profissional no jornalismo dois anos antes de eu nascer. Desde criança os telejornais têm sido minha maior atração televisiva. Por muitos anos da minha vida, Joelmir Beting foi meu companheiro virtual diário. Meu mais confiável informante e tradutor do "economês", como costumava dizer.
Quando nos encontramos, na Alemanha, reagi como fã e tive simpática e inesquecível acolhida. Disse a ele que há cinco anos eu estava enveredando para o empreendedorismo jornalístico com o JOV (Jornal O Vizinho).
Expliquei tratar-se de um jornal de bolso com distribuição gratuita de porta-em-porta em Joinville, SC. Ele conhecia a cidade, mas nunca ouvira falar do JOV. Mas eu disse que ele ainda ouviria. Rimos.
No rápido contato - a conversa durou pouco mais de dez minutos -, na despedida, ficou registrado um conselho que pratiquei poucos anos depois. "O jornalismo é apaixonante. Já pensastes em fazer uma faculdade?". Dali em diante comecei a pensar.

Treze dias antes do lançamento do meu primeiro livro "O GIGANTE acuado" e já com 75 anos, Beting, de noticiador, é o noticiado, pela sua morte. Entristeci-me.
Ele tinha razão. A profissão é apaixonante.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

R$ 50 milhões de indenização

Como atividades da Semana Internacional dos Direitos Humanos 2012, a Defensoria Social concentra eventos em Joinville, SC, com destaque para o lançamento do livro "O GIGANTE acuado", obra que comporá documentação de Ação Civil Pública com pedido de indenização de R$ 50 milhões e Denúncia Internacional em Genebra (Suiça) e Washington (EUA).
Criada por Iago Sartini, arte capa do livro "O GIGANTE acuado"

A Defensoria Social, Seção Brasileira da Agência Latinoamericana para el Desarrollo Sostenible (alades.org) e do TSI (Tribunal Social Internacional), é um colegiado de instituições de caráter ecumênico, fundada em março de 2004 como Gesto Concreto da Campanha da Fraternidade, com apoio da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e Conic (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs no Brasil), dedicada à defesa da sociedade em demandas sociais e coletivas, em prol da Paz e Sustentabilidade como direitos fundamentais das presentes e futuras gerações.
Em sua estrutura orgânica mantém um Conselho Deliberativo que se reúne periodicamente em Brasilia-DF e uma Secretaria Geral com sede em Curitiba-PR. Em sua estrutura operacional, similar aos Ministérios Públicos e Delegacias de Combate a Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, mantém uma Procuradoria Geral com sede em Nova Iguaçu-RJ; Procuradorias Regionais em todas as regiões do país e Delegacias (estaduais e locais) que atuam com foco na proteção de biomas naturais ameaçados, recebendo denúncias, instaurando procedimentos investigatórios, realizando perícias de forma a dar o melhor encaminhamento possível às demandas, nas esferas administrativas e judiciárias em instâncias locais, regionais, nacionais e internacionais, tendo como fundamento para sua ação a promoção da Cidadania Ativa  como ferramenta para a conquista da justiça ambiental e social.
No dia 10 de dezembro de 1948 foi sancionada pelas Nações Unidas a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o tratado internacional mais importante produzido pela humanidade para evitar que, no futuro, se repetissem os acontecimentos e violações ao ser humano que deram origem ao nazi-fascismo e os horrores da 2ª guerra mundial se repetissem. Essa data foi, então, oficializada pela Assembléia Geral da ONU como o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Mais de meio século passou desde então e as violações continuaram, ampliaram e se sofisticaram, levando movimentos sociais do mundo todo a criar a Semana Internacional dos Direitos Humanos dedicada à realização de atividades coletivas para a construção de uma cultura de paz, sem que isso represente tolerar a violência, como antídoto às violações dos direitos da humanidade a um mundo em que a Paz e a Sustentabilidade sejam compreendidas como direitos fundamentais das presentes e futuras gerações.


Calendário 2012 de Mobilizações
08 e 09 de dezembro (sábado e domingo)
√ Conferência Nacional e Curso de Oratória e Liderança com integrantes das Procuradorias e Delegacias da Defensoria Social em todo o país - Joinville/SC;

10 de dezembro (segunda-feira)
√ Curso de formação de Defensores e Defensoras Sociais para atuar junto ao TSI (Tribunal Social Internacional), dedicado a lideranças comunitárias e de movimentos sociais e aberto a estudantes de Direito interessados em atuar na área de direitos coletivos, sociais e ambientais - 14h
√ Solenidade de posse dos novos Procuradores e Delegados da Defensoria Social no Brasil, com a apresentação do livro “O GIGANTE acuado” pelo jornalista Altamir Andrade, a partir das 18 horas com show de encerramento com Muri Costa e convidados.

12 de dezembro (quarta-feira)
√ Lançamento do livro “O GIGANTE acuado” de autoria do Jornalista Altamir Andrade que relata a luta do menor jornal do Brasil contra os crimes ambientais cometidos pela maior indústria de fundição do mundo, com um “brunch” oferecido aos convidados, às 12 horas e 12 minutos do dia 12 do 12º. mês do ano 12 do novo milênio;

14 de dezembro (sexta-feira)
√ A Defensoria Social protocola Ação Civil Pública contra a empresa Tupy Fundições S.A (a maior indústria de fundição do mundo) por Crime de responsabilidade Social e Ambiental, exigindo a despoluição da Baía Babitonga (mais importante estuário em Baía de Mata Atlântica do hemisfério sul) bem como indenização de R$ 50 milhões à sociedade por danos causados ao meio ambiente com reflexos na saúde pública. Além da Ação na Justiça Federal em Joinville/SC, simultaneamente a Defensoria Social faz a entrega de denúncia  à Comissão Inter Americana de Direitos Humanos da OEA em Washington (EUA), Conselho de Direitos Humanos da ONU e Tribunal Social Internacional em Genebra (Suíça);

15 de dezembro (sábado)
√ Ato Público de instalação da sede da Secretaria Operativa do TSI (Tribunal Social Internacional) no Brasil com lançamento da Semana Internacional Dom Adriano Hypolito, em setembro de 2016, marco dos 40 anos do sequestro e tortura do Bispo brasileiro que dedicou sua vida à promoção dos Direitos Humanos, contribuindo para a reconstrução do Estado Democrático de Direitos no Brasil, a partir das 15 horas, na sede da Secretaria Geral da Defensoria Social em Nova Iguaçu – RJ.

O livro "O GIGANTE acuado" reúne coletânea de reportagens feitas desde 2001 no JOV (Jornal O Vizinho) com denúncias contra o reúso de ADFs (Areias Descartáveis de Fundições). A obra foi estimulada pelo prêmio que recebi "Parceiro da Paz e Sustentabilidade 2012/2016". Sobre esse tema seguem links de outras postagens nesse blog:

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O presente. Uma fábrica de automóveis

Praticamente todo jovem sonha em ganhar de presente de aniversário, ao completar 18 anos, um carro. Muitos têm tido esse privilégio. Agora, quantas pessoas nesse mundo ganhariam de presente de aniversário, ao completar 60 anos, uma fábrica de automóveis? Dos mais luxuosos do mundo!
Às vésperas de completar 60 anos, na tarde de 22/10, o catarinense João Pedro Woitexem, além de ganhar um caloroso abraço da presidenta Dilma Rousseff, em Brasília, ouviu dela: "Prefeito João Pedro, o senhor é um homem de sorte". Enquanto ela ganhara miniatura de uma BMW, como pode ser conferido na foto de Roberto Stuckert Filho, abaixo, ele uma fábrica na sua cidade.
Presidenta Dilma Rousseff, governador catarinense Raimundo Colombo e Ian Robertson, vice-presidente e membro do conselho de administração da BMW AG, Vendas e Marketing

Após meses de reuniões e articulações, finalmente a montadora de carros luxuosos alemães, BMW, anunciou no gabinete presidencial brasileiro, que instalará um parque fabril em Araquari, SC.
João Pedro Woitexem (primeiro à direita) na reunião com a presidenta Dilma Rousseff (centro) no evento em Brasília, de anúncio oficial da vinda da BMW para Araquari, SC

Com investimento previsto de  um bilhão de reais e geração de 1.500 empregos diretos e outros 15.000 indiretos, o prefeito do município, recém reeleito, disse-me, em entrevista exclusiva no seu gabinete, que ao completar 60 anos, o dia 23/10/2012 é o de comemoração natalícia mais feliz de toda a sua vida.
BMW (Bayerische Motoren Werke) e JPW (João Pedro Woitexem). Qualquer semelhança é mera coincidência, ou pode-se dizer que a história dele com a empresa já fora sutilmente anunciada 60 anos atrás?
Ele chegou de Brasília na madrugada, pelas 3h30, e às 9h já estava na prefeitura. Às 10h, uma festa surpresa lhe foi oferecida pelos servidores públicos do município.
JPW sopra as velas do bolo de aniversário de 60 anos oferecido pelos servidores na prefeitura

O prefeito agradeceu a surpresa, emocionado, e com voz embargada disse que comemorar o aniversário, a vinda da BMW e a reeleição tem um sabor muito especial porque essas conquistas só foram possíveis por conta do apoio que recebeu dos funcionários da prefeitura.
A diretora do CEI José Lindolfo da Silva, do Bairro Porto Grande, fez uma apresentação homenagem ao prefeito destacando que Araquari, conhecida como a Capital do Maracujá, a partir de agora começa a ser conhecida como "a cidade da BMW" no Brasil. Vestida como personagem de uma fábula, Luciane Batista Sprotte, qualificou o prefeito como um "sonhador".
JPW é trazido pela servidora Luciane Batista Sprotte, vestida como personagem de fábula

O prefeito admitiu ser um "sonhador", mas um "sonhador que sonha de olhos abertos", mediante tantos "sonhos" realizados.
Antes dessa festa, JPW reuniu-se com nossa equipe do Jornal O Araquariense e admitiu que por mais que imaginasse saber o tamanho, a grandiosidade dessa conquista da vinda da BMW para o município, espantou-se com o que viu e sentiu, em Brasília.
JPW, secretário Clenilton Carlos Pereira e Jorge Mazotto com Daiane Cunha, do Jornal O Araquariense

O prefeito tomou um susto, ao ver entrar na sala onde estava reunido com a presidenta Dilma Rousseff dezenas de fotógrafos e cinegrafistas, nacionais e internacionais, para registrar e noticiar a vinda da BMW para Araquari. "Eram tantos flashes que mais parecia uma concentração de fogos de artifício".
No encontro com nossa equipe, retomamos a conversa de outro empreendimento que intermediei o primeiro contato do prefeito e do seu secretário em Curitiba, PR. Desde que fui eleito pela ONU "Parceiro da Paz e da Sustentabilidade" tenho participado de alguns eventos e protagonizado outros como a aproximação de instituições, empresários e governantes em projetos diversos.
João Francisco Bittencourt, presidente da JMalucelli Concessões, do grupo empresarial JMalucelli, recebeu o prefeito João Pedro Woitexem e o secretário Clenilton Carlos Pereira na sede da empresa em Curitiba, PR

Foi durante um destes encontros em São Paulo que soube do interesse do Grupo JMalucelli em investir na construção de um aeroporto internacional de cargas. Posteriormente reuni-me com João Francisco Bittencourt, presidente da JMalucelli Concessões e levei, alguns dias depois, no dia 07 de agosto, o prefeito e o secretário de Araquari para um encontro. "O Grupo JMalucelli tem interesse em investir no setor e o Aeroporto Intermodal Internacional de Araquari é um projeto que nos interessa", reiterou Bittencourt.
Em Brasília, no evento da BMW, o prefeito conversou com o Secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável, Paulo Bornhausen sobre esse nosso encontro, em Curitiba. "O projeto do aeroporto de Araquari, com a vinda da BMW e das centenas de outras empresas que acompanharão essa nova fase de crescimento econômico da região, instalando-se por aqui, demandarão a urgência dessa obra", diz o prefeito.
Mas, sobre isso escreverei mais, adiante. Agora, outras imagens da festa dos servidores ao prefeito.


















quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Uma criatura menos destrutiva

Já tive diversos veículos ao mesmo tempo na minha garagem. Carros, motos e lanchas. Desde abril de 2011 não tenho mais qualquer veículo motorizado. Agora tenho bicicletas. Ando muito à pé, de ônibus, trem e metrô. A carona também é uma alternativa. Viagens também as faço com esses meios de transporte incluindo navios e aviões.
Minha preferência é para o transporte coletivo e evito ao máximo o individual motorizado. Táxis, só numa emergência. Foi uma atitude tomada em 2009, quando completei 50 anos.  Decidi em 2007 começar a mudar meu estilo de vida para trilhar esse caminho, de me tornar uma criatura ambientalmente menos destrutiva. Mas essa meta já vinha ensaiando muitos anos antes. Como demorou!
Outros fatores também contribuíram para essa tomada de decisão que pretendo não reverter. Mas, confesso que é difícil, diante de tantos estímulos publicitários, incentivos de governo e facilidades de compras, manter essa decisão.
Para a maioria das pessoas com quem convivo virei um "bicho grilo". Todavia, sinto-me ambientalmente mais ajustado. Por isso insisto. Antes de continuar o texto, convém assistir esse vídeo. Já vi muitas pessoas ouvindo palestras, assistindo filmes e pregando discursos ambientalistas, mas raramente encontro alguma destas praticando o que ouviu, viu ou pregou.
Duvido que você não se sensibilize com essa obra intitulada "O verdadeiro sentido das coisas". 

Alguns anos atrás pude conhecer, num grande centro urbano, uma família que foi passear em área rural com seus filhos. Um deles, ao ver uma galinha atravessar apressadamente a estrada gritou: “Olha, uma knorr”. Desde então tenho contado essa história em praticamente todas as minhas conversas, encontros, palestras, cursos etc. Já ouvi muitas variantes dela contada por outros e até piadas feitas.
Estou certo que não fui o único a ter uma experiência assim.
Como estamos dessintonizados da natureza! É que sou do tempo quando havia uma propaganda na TV sobre um tempero pronto que mostrava uma animação com uma galinha azul que terminava com a frase "Com Knorr é melhor".
No livro “A vingança de Gaia” James Ephraim Lovelock adverte que estamos abusando da Terra. Autor de centenas de artigos científicos e o criador da Hipótese de Gaia, já aceita no meio científico como Teoria de Gaia, seu mais polêmico alerta nos últimos anos tem sido advertir ao mundo que não é mais possível o desenvolvimento sustentável: “Esperar que o desenvolvimento sustentável ou a confiança em deixar as coisas como estão sejam políticas viáveis é como esperar que uma vítima de câncer no pulmão seja curada parando de fumar”, diz o guru ambientalista.
Considerando que metade da população mundial vive em áreas urbanas, Lovelock avisa: “Precisamos acima de tudo renovar aquele amor e empatia pela natureza que perdemos quando começamos nosso namoro com a vida urbana”.
Sobre o futuro da humanidade, o pesquisador é pragmático: “As perspectivas são sombrias, e, ainda que consigamos reagir com sucesso, passaremos por tempos difíceis, como em qualquer guerra, que nos levarão ao limite. Somos resistentes, e seria preciso mais do que a catástrofe climática prevista para eliminar todos os casais de seres humanos em condições de procriar. O que está em risco é a civilização. Como animais individuais, não somos tão especiais assim, e em certos aspectos a espécie humana é como uma doença planetária”.
Antes de odiá-lo por essas afirmações leia “A Vingança de Gaia”. Acredito que você se motivará à mobilização dos que estão ao seu redor para agirmos como ele próprio recomenda: “Precisamos agir agora como se estivéssemos prestes a ser atacados por um inimigo poderoso. Precisamos, acima de tudo, daquela mudança de corações e mentes que ocorre nas nações tribais quando pressentem o verdadeiro perigo”.

Esse outro vídeo nos faz pensar sobre outro grave problema que produzem as chaminés mostradas no primeiro vídeo:
O que precisamos fazer quando vemos uma obra dessas é nos perguntar "como posso contribuir para mudar isso"? Se decidirmos nos comprometer, e a palavra chave é "comprometimento", descobriremos que pequenas atitudes contribuem muito.
Eu tomei a decisão de não comprar mais veículos motorizados. Como a maioria das pessoas, antes disso eu também acreditava que era "impossível" viver sem carro! É o que ouço de praticamente todos que os têm: "A vida que levo, o trabalho que tenho, o local onde vivo, trabalho, me obrigam a ter carro. Sou 'obrigado' a ter no mínimo um".

Todos podem viver sem carro. Para isso você precisa mudar seu estilo de vida. Eu morava a dez quilômetros da minha empresa. Gastava quase meia hora em cada deslocamento (casa-trabalho ou trabalho-casa). Tinha um apto confortável. Decidi fazer uma kitinete numa área da empresa. Racionalizei espaços nela e sobrou para isso.
Fechei o apto (por três anos) e morei dentro da empresa. Com isso eu gastava menos de um minuto para o deslocamento casa-trabalho. Minha qualidade de vida melhorou muito. Além de ganhar uma hora todos os dias para qualquer outra atividade, eliminei o estresse de começar o meu dia com o trânsito congestionado, as filas intermináveis, as buzinas impacientes e os xingamentos por atrasar um segundo a largada quando o sinaleiro mudava do vermelho para o verde. Isso não existe mais na minha vida! Que mudança! Para melhor!
Depois, decidi melhorar ainda mais a minha qualidade de vida. Mudei a empresa de endereço. Isso porque fui morar numa casa, ampla, com espaço que também caberia a empresa. A mesma casa onde comecei a empreender. Fiz uma grande mudança na empresa também. Descentralizamos.
Sócios e empregados montaram escritórios nas suas casas, com toda a infraestrutura: computador, impressora, linha telefônica, internet, celular etc. Cada um na sua casa como se estivesse na sua sala na empresa. Uma vez por semana nos reunimos para avaliar a semana que passou e planejar a que inicia. Reduzimos custos, melhoramos qualidade de vida, nos tornamos mais produtivos. Ganhamos todos.
Agora, a empresa, que até 2010 ocupava uma área de mais de duzentos metros quadrados, está numa sala de vinte e cinco metros quadrados da minha casa, e sobra espaço. Ao lado de uma área de preservação, numa rua sem saída. No bairro Atiradores. Ao centro da cidade, às vezes, uma única vez por mês preciso ir. Evito-o ao máximo.
Há uns três anos eu estava no banho e ao olhar para baixo um susto. Me via eunuco! Meu corpo estava se deformando com uma enorme barriga a caminho. Desde a decisão de não ter mais carro, meu corpo vem voltando ao normal. Agora, no banho, encosto o queixo no peito e minha autoestima entra em ereção.
√ Não jogo mais gases que aumentam o efeito estufa no ar.
√ Não contribuo com a poluição sonora com motores ligados ou buzinas.
√ Não ajudo a congestionar o trânsito.
√ Não me estresso com as filas ou o trânsito parado.
√ Não alimento mais a indústria da multa que sempre dava um jeito de levar meu dinheiro.
√ Não pago mais um monte de taxas e licenças.
√ Já penso em cancelar meu plano de doença, que todos dizem ser plano de saúde.
√ Estou mais saudável, apesar de mais velho.
√ Me sinto mais vivo, apesar de cada vez mais próximo do ocaso.
√ Melhorei muito minha qualidade de vida.
√ Saí da teoria ambiental para a prática sustentável.
Que conquista! Vale a pena.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Uma arma à cabeça, um tiro. Jornalismo é profissão de risco

Por ter publicado uma piada, num dos jornais que edito, tive uma arma apontada para minha cabeça. Mas, antes de narrar esse fato, primeiro outro episódio em que o gatilho foi puxado.
Em 28 de abril de 2001, sofri o que qualifico de um dos maiores sustos da minha vida, mas que segundo a polícia tivera todos os indícios de um atentado. Seguindo orientações de advogado, fizemos BO (Boletim de Ocorrência) em Joinville. Até hoje nenhuma manifestação policial investigativa ocorreu, pelo menos que eu saiba.
As evidências dos fatos relatadas no BO levantavam suspeitas de que o tiro disparado contra o meu veículo quando dirigia na BR 101 pudesse ter relações com as denúncias que minhas reportagens faziam contra fundição joinvilense por conta do descarte criminoso de rejeitos industriais na região.

De acordo com o diretor da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) muitos crimes ocorrem porque os agressores têm a sensação de que não vão ser punidos. "Há uma situação já comprovada de que todos os crimes que ocorrem contra jornalistas no interior do Brasil acabam sendo engavetados", disse em recente encontro em Brasília José Carlos Torves.
Por essa razão a Fenaj defende a aprovação de um PL (Projeto de Lei) que está sendo analisado na Câmara, que federaliza os crimes contra a atividade jornalística. Trata-se do PL 1078/11, que permite a participação da PF (Polícia Federal) nos inquéritos sobre esses crimes quando houver "omissão ou ineficiência" das polícias dos estados e municípios.
A proposta do Delegado Protógenes (PCdoB-SP) altera a Lei 10.446/02, que já prevê atuação conjunta da PF com outros órgãos de investigação para crimes como formação de cartel, violação de direitos humanos, sequestro, cárcere privado e extorsão por motivos políticos.
Segundo a Fenaj, só nos seis primeiros meses de 2012 seis jornalistas foram assassinados. Em todo o ano de 2011 foram, também, seis. Em 2010, um único caso e, em 2009, dois. Desde 1995 foram assassinados 41 jornalistas no Brasil. A entidade destaca que a violência contra a categoria não diz respeito só a assassinatos, mas a agressões físicas, ofensas verbais e ameaças, que são costumeiras.
Em dezembro acontece o lançamento do meu primeiro livro. Em "O Gigante Acuado", relato algumas passagens desse tipo de violência que venho sofrendo em Joinville por entidades poderosas, entra elas a Prefeitura Municipal de Joinville, Univille, Acij, Ajorpeme, CDL, Acomac e Tupy Fundições S.A.

A ONU (Organização das Nações Unidas) denunciou em junho na abertura da 20a reunião do Conselho de Direitos Humanos o que qualifica de "aumento drástico" da violência contra jornalistas na América Latina. A entidade classifica de "preocupante" a situação brasileira e cobrou "medidas imediatas" do governo para garantir proteção aos profissionais.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York, calcula que o Brasil lidera o ranking de jornalistas assassinados na América Latina em 2012. Nos seis primeiros meses de 2012, foram mortos 110 jornalistas no mundo em situação considerada de violência e atentado à liberdade de imprensa, segundo a PEC (Press Emblem Campaign). Em 2011 foram 107 profissionais mortos. O Brasil está na quarta posição. A PEC listou os 21 países mais violentos para o exercício da profissão. Na América Latina, os campeões são o Brasil, no vergonhoso primeiro lugar, seguido por Honduras, Bolívia, Colômbia, Haiti e Panamá.
Voltando ao caso da piada. Desde que edito o JOV (Jornal O Vizinho), em suas páginas sempre têm, no mínimo, uma piada. Seis personagens as protagonizam desde abril de 1991. Os casais Frtiz e Frida, Heinz e Helga, Harry e Hilda. Isso para prestigiar a colonização germânica do município.
O ano era 1992. Um casal típico da germanicidade joinvilense entra na minha empresa, que tinha sua sede à rua Rio Grande do Sul, 158, e o marido pergunta irado: "Guem serrrr guem esgrrreve os piadas dessa jornal?", ao que imediatamente me apresentei. Ato contínuo o homem tira uma arma do bolso da calça e aponta em direção à minha cabeça falando em tom ainda mais alto: "Borquê a senhor fica faiz piada com meu prrroblema com minha Frrrida e todas as meus vizinhas agorrra estão rrrindo, debochando de nós, umaveiz?".
Até hoje não sei de onde tirei tanta calma e capacidade argumentativa para evitar que aquele homem puxasse o gatilho. Era um homem simples, trabalhador, morador do bairro Anita Garibaldi, perto da BR 101. Eu havia publicado uma piada em que o Fritz era traído pela Frida com o amigo Heinz. Pois, bem. O cúmulo. O casal que entrara à minha sala era o Fritz, casado com a Frida que tinha um amigo Heinz, e a piada narrava uma situação coincidentemente real.
Desde aquele dia pensei em colocar embaixo de todas as piadas: "Essa piada é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência". Foi o que consegui fazer com o Fritz armado. Convencê-lo de que jamais eu soubera da existência deles e, muito menos, do caso de traição que envolvia o triângulo amoroso do bairro Anita Garibaldi. O homem saiu da minha empresa muito, muito envergonhado e pedindo-me desculpas. Foi tudo tão inusitado, tão surreal, que esse caso não levei ao conhecimento da polícia. Aquele homem teria tudo para puxar o gatilho contra a própria cabeça se eu o denunciasse. Soube da morte dele, natural, dois anos depois. Nunca mais soube da Frida, nem do Heinz.

Como se vê, a profissão é de risco, constante.
No fim deste texto, outra matéria sobre o tema publicada em agosto de 2013, atualizando-o. Apesar do que o autor escreve neste novo texto eu ainda aconselho: Se você é jornalista, convém que se sindicalize, pois os sindicatos são importantes entidades de apoio aos profissionais. Seguem os links de alguns. Se você conhece algum outro, avise-me através dos "comentários" que eu adiciono à lista.

Sindicato de jornalistas
Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina
Sindicato dos Jornalistas do Acre 
Sindicato dos Jornalistas de Alagoas
Sindicato dos Jornalistas do Amapá 
Sindicato dos Jornalistas do Amazonas
Sindicato dos Jornalistas da Bahia
Sindicato dos Jornalistas do Ceará
Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal
Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo
Sindicato dos Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro
Sindicato dos Jornalistas de Goiás 
Sindicato dos Jornalistas de Juiz de Fora
Sindicato dos Jornalistas de Londrina 
Sindicato dos Jornalistas do Mato Grosso
Sindicato dos Jornalistas do Mato Grosso do Sul
Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais
Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro
Sindicato dos Jornalistas do Pará 
Sindicato dos Jornalistas da Paraíba 
Sindicato dos Jornalistas do Paraná 
Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco
Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul
Sindicato dos Jornalistas de Rondônia
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
Sindicato dos Jornalistas de Sergipe

Algumas entidades da área da comunicação

Leia mais sobre o tema que se destaca no livro, neste blog:
Minha casa, o fim da minha vida
"Deus" tremendo filho da puta
Imperdível, assustador, pois o veneno está à mesa
Acontecimentos inesperados, consequências de incalculáveis repercussões


O perigo de ser jornalista: violência e abandono 
Por Raphael Tsavkko Garcia em 06/08/2013 na edição 758 do "Observatório da Imprensa" 

Não há qualquer tipo de segurança ou mesmo garantia de segurança para quem exerce a profissão de jornalista. Caso você seja um freelancer, a situação tende a piorar. Sequer sobra a possibilidade de ter um jornal, uma estrutura como barreira ao menos para processos.
Casos recentes de assassinatos de jornalistas em Minas Gerais, as ameaças sofridas pela jornalista Lucia Rodrigues por parte do coronel Telhada, da Rota de São Paulo (e agora vereador), que também ameaçou e fez ser exilado o jornalista do Estado de S.Paulo André Caramante, ou mesmo a tentativa de assassinato de blogueiros como Ricardo Gama, no Rio de Janeiro, e o suposto suicídio do blogueiro catarinense Mosquito denunciam a total insegurança em que vivem aqueles que decidem denunciar poderosos e perigosos e também as ameaças e pressões sofridas por eles.
Recordo-me quando, em 2001, fotografei e gravei um protesto de neonazistas em plena Avenida Paulista. Eram neonazistas, fascistas, integralistas, enfim, toda a nata do submundo do ódio de extrema-direita reunida para defender o deputado Jair Bolsonaro. Até hoje, dois anos depois, ainda recebo ameaças por parte de neonazistas e similares, mas nada mais grave me ocorreu. Infelizmente o mesmo não pode ser dito no caso de dezenas de outros jornalistas.
Apuração e veracidade
Toda esta facilidade com que se ameaça e mata jornalistas é reflexo da falência não só do Estado de Direito, mas dos sindicatos, que deveriam representar nossa categoria. Os sindicatos não atuam sequer na luta por salários decentes, contra os PJ e excesso de “frilas”, que o diga na proteção de seus filiados e não-filiados. Para eles interessa mais a “luta” pelo diploma que pela vida dos jornalistas, de quem, com paixão, exerce esta profissão, independentemente de possuir ou não um pedaço de papel.
Não adianta contar com a polícia, pois uma parte significativa dos assassinos de jornalistas são policiais e ex-policiais, nem com o governo, pois muitas vezes os jornalistas são ameaçados e mortos por criticar governos e, infelizmente, não podemos contar com quem deveria nos representar, pois os sindicatos estão mais interessados em decidir quem pode ou deve sequer ter direito a ser chamado de jornalista baseados em um pedaço de papel e não em capacidade, habilidade e mesmo amor pelo que faz (fazemos).
Enquanto na grande mídia jornalistas se vendem pelos melhores preços (em muitos casos pelo preço possível, ou passam fome), vendem sua ideologia, sua ética, sua integridade para reportar aquilo que querem os patrões, na mídia alternativa – vide a Caros Amigos – resta a precarização. Os jornais não conseguem conviver com a internet, ampliando a precarização e as demissões (passaralhos) em redações, desprezando o importante papel dos jornalistas hoje de curadoria e de análise de dados e notícias. Apenas neste mês, a Abril pretende demitir mil funcionários e em momento algum o sindicato se insurgiu ou sequer planeja se insurgir, pressionar e buscar alternativas. Ao menos tempo, na Argentina, funcionários de jornais realizaram paralisações conjuntas e organizadas por todo o país.
O jornalista hoje não apenas escreve, mas se coloca como um diferencial de qualidade, analisa, seleciona, faz curadoria, é um modelo. Qualquer um pode ter um blog, mas a responsabilidade pela apuração e a garantia da veracidade dos fatos recai, ainda, sobre o jornalista. E isto é desprezado.
Raphael Tsavkko Garcia é mestre em Comunicação