Numa sociedade onde as políticas públicas priorizam os veículos, mesmo que hajam leis determinando a preferência para pedestres e ciclistas, consolida-se uma cultura à motorização. Nela, a rua está para o carro assim como o mar está para o peixe. A bicicleta é vista como um corpo estranho.
É tão "natural" que tudo esteja para servir o automóvel que os motoristas não internalizam ou não aceitam os artigos do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) que determinam o contrário. O pior é ouvir "colegas" de profissão (jornalistas), em suas reportagens ou nos espaços de opinião, defenderem até com agressividade que vias são para os carros, exclusivamente... Absurda deformação da informação!
O mesmo CTB também determina alguns itens de segurança que são obrigatórios para as bicicletas. Da mesma forma, algumas condutas do próprio ciclista no trânsito. Poucas são respeitadas pela maioria destes também.
Continuo defendendo o que escrevi em postagem anterior; a bicicleta é a saída para a maioria dos problemas de mobilidade urbana. Mas, há muito o que fazer.
A reportagem de capa da edição 793 do JOV (Jornal O Vizinho) aborda uma legislação joinvilense que penaliza ainda mais pedestres e ciclistas permitindo que as calçadas, que são espaços públicos, sejam ocupadas com mesas e cadeiras de bares e restaurantes (entidades privadas).
Políticas públicas devem não só abandonar os privilégios aos carros, mas educar a sociedade e priorizar o ser humano - pedestres e ciclistas -, nas questões de mobilidade urbana. O mau exemplo de Joinville, infelizmente, não é exceção, é regra nas cidades brasileiras.
O desafio não é pequeno. Todavia, os movimentos sociais em defesa da bicicleta agigantam-se. E o tema ganha prioridade em nossos jornais, neste ano de 2013.
Já está comprovado que em terreno plano, como é a condição geográfica predominante em Joinville, o ciclista é três ou quatro vezes mais veloz que o pedestre, gastando ao todo cinco vezes menos calorias por quilômetro que este.
Com a bicicleta, o ser humano ultrapassa o rendimento possível de qualquer máquina e de qualquer animal evoluído.
Apesar de a bicicleta ser uma invenção da mesma geração que criou o veículo a motor, as duas invenções são símbolos de avanços feitos em direções opostas pelo homem moderno.
Enquanto a bicicleta ainda é distorcidamente vista como uma opção de deslocamento dos pobres, o automóvel é um bem de luxo. Por definição é impossível democratizar o luxo, e as sociedades que criaram políticas públicas privilegiando os carros multiplicaram as distâncias. As pessoas vivem longe de seu trabalho, da escola, do supermercado... No fim das contas, o carro desperdiça mais tempo do que economiza e cria mais distâncias do que supera. E a cidade, que por gerações inteiras foi comemorada como o melhor lugar para se viver agora é um caos onde impera a hostilidade e a desumanidade no trânsito.
Quanto mais políticas públicas incentivarem a aquisição de carros, mais eles se transformam numa opção incerta, imprevisível. Você nunca sabe quando os engarrafamentos o deixarão chegar ao seu destino ou se chegará na hora que precisa.
Para piorar, o volume de tráfego cresce a uma taxa mais rápida do que a construção de estradas ou as soluções de engenharia de trânsito.
O desafio também está em nos livrarmos da "lavagem cerebral" muito bem praticada pelos "novos sociólogos", os marketeiros. Recusar o carro é recusar um modo de vida diferente da proposta que estes profissionais nos impõem, através da mídia, de uma sociedade cada vez mais consumista do último modelo, da prática do descartável, como se os recursos do planeta fossem infinitos.
O CTB determina que, na ausência de ciclovia, ciclofaixa ou acostamento transitável a preferência é do ciclista, e que os veículos automotores devem reduzir a velocidade de forma compatível com a segurança no trânsito para ultrapassá-lo, além de guardar distância lateral de um metro e meio durante a ultrapassagem.
Mas, no dia-a-dia os ciclistas que circulam nas ruas são vistos como intrusos pela polícia, pelos motoristas e por colegas jornalistas arrogantes e desinformados. Isso precisa mudar.
O uso da bicicleta como principal veículo de mobilidade individual tem sido cada vez mais adotado por sociedades e governos comprometidos com a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente. E o planeta, saqueado, está com seu equilíbrio violentamente agredido e avisando-nos, com os cada vez mais frequentes desastres ambientais.
Para finalizar este texto, um vídeo que mostra a incrível habilidade de um ciclista entre ruínas e sucata de uma estação ferroviária.
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Bom dia
ResponderExcluirAutoriza-me a utilizar o desenho sobre o DNA no meu Blog?
Bom dia José António dos Santos Gouveia. Só agora vi seu comentário. Quanto ao desenho é livre, o encontrei na rede sem fonte do autor, por isso usei-o para ilustrar meu texto. Abraço
ExcluirOlá Altamir, também estou utilizando o desenho... fiquei com a mesma dúvida do José, sobre autorização.
ResponderExcluirabç