quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Da janela de um trem

O COL (Clube de Oratória e Liderança ) me permitu bons encontros. Um dos mais sólidos e duradouros tem sido com o empresário Mário Zendron. Ao completar em janeiro 81 anos, esse senhor que tem muito da juventude de sua idade inversa ainda presente no dia-a-dia - basta conviver com ele para admirá-lo por isso -, presenteou os convidados para a sua festa com sua biografia.

Abraçado por Ilaine Melo, o amigo Mário Zendron num jantar do COL com o presidente Roberto Neotti

Saí do Prinz com o livro "Da janela de um trem - Memórias dispersas" numa sexta-feira a noite. No domingo de manhã, viajei quase 100 Km para "tentar" lê-lo numa das praias que mais gosto, Cabeçudas, em Itajaí, SC.
"Tentar" porque biografias que não sejam de grandes escritores ou personalidades, quase sempre são muito chatas. No máximo alguns membros da família (muito poucos) se "obrigam" a ler inteiramente.
Eram 9h de uma manhã nublada num dia que seria de pouco sol - somente a partir das 13h - e, ainda assim, tirado o seu brilho de vez em quando por algumas nuvens que deixavam cair minguados pingos no corpo aquecido pelo mormaço, o que provocava um frescor despertante.
Acompanhado de vinho, água e alguns petiscos, fui me deixando levar pelas histórias que lia. Algumas já as conhecia. Outras, surpreendentes novidades como quando ele grita publicamente com o ex-governador de SC, no aeroporto, acusando-o de "não ser homem" e Esperidião Amim por pouco não o agride.
Esse é o Mário Zendron. Um homem de muitas, muitas histórias, um empreendedor, uma criatura do bem impregnada de conceitos de gerações de décadas atrás e também preconceitos, como os temos todos os seres humanos, por mais que os queiramos negar.
O vinho bom, a paisagem da praia, as mulheres lindas a desfilar e algumas, sentadas ao longe, a flertar, de vez em quando me tiravam da leitura. No meio da tarde, quando me dei conta, eu acabara de ler o livro. Fui surpreendido pelo "aprisionamento" à leitura e eu não sou parente do Mário Zendron!!! - apesar de às vezes tratá-lo como se meu pai fosse. Noutras, como irmão. Mas, quase sempre como um dos meus melhores Amigos.
Tenho outras biografias de amigos e conhecidos. Nenhuma delas consegui terminar a leitura. A maioria não me cativou para ler dez páginas. "Da janela de um trem" quase me fez esquecer onde eu estava. De tal maneira que ao terminar a leitura então retornei do imaginário da criação de imagens que o texto me remetia constantemente para me contextualizar com o que acontecia ao redor de mim. A praia estava cheia e eu ardendo. Fiquei sentado desde às 9h com meu lado esquerdo para o Leste e o sol escondido atrás das nuvens. Estas deixavam cair alguns esparsos pingos de chuva que me refrescavam do mormaço.
A leitura absorveu-me tanto que não senti o que me acontecia; e a imprudência não me deixou que me protegesse com o protetor solar. Assei-me, embolhei-me e troquei a pele dos pés às orelhas na metade (esquerda) do corpo nos dias seguintes. A leitura me fez admirar ainda mais essa criatura, esse Amigo que também está no vídeo da minha produtora produzido para comemorar os 30 anos do COL. Vale a pena ouvi-lo e ver seu depoimento no video.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Jantares e entrevistas

Fica ainda melhor trabalhar quando se pode conciliar alguns prazeres. Cozinhar é algo que gosto muito. Minha preferência é pegar triviais e dar um toque especial, como por exemplo, sobrecoxas de frango assadas ao molho de vinho branco e batatas. Na semana passada alguns convidados num destes eventos conciliatórios de trabalho com o prazer de receber e dos encontros.
Jorge Luiz Mazotto, Salette Soares, Manoel Francisco Bento e Ilaine Melo num destes encontros que terminou às 2h30 da madrugada embalados por comida saborosa, bons vinhos, ótima cachaça e melhor ainda, conversa.

Parte dessa conversa está na edição 747 do JOV que tem o encontro (no papel) de duas lideranças políticas como está descrito no editorial: "Opostos, mas muito em comum
O caldeirão em ebulição das últimas semanas está exigindo, tanto dos poderes executivo como legislativo, mudanças mais afinadas com a sociedade. Em horários diferentes, tanto o líder do governo Carlito Merss, o vereador Manoel Francisco Bento (PT) quanto o presidente da CVJ (Câmara de Vereadores de Joinville) o vereador Odir Nunes (DEM), ocuparam a mesma cadeira para atender o nosso chamamento. Apesar de militarem em partidos reconhecidamente opostos, os dois têm muitas coisas em comum como serem conterrâneos e declararem o respeito mútuo na atividade profissional e a admiração recíproca nas relações pessoais. Outro destaque de uniformidade de pensamentos é a defesa do presidente da Fundema e sua manutenção na liderança do órgão de fiscalização ambiental do município.
Posicionamento esse que também é compartilhado com o IVC (Instituto Viva o Cachoeira) e o JOV (Jornal O Vizinho) que têm acompanhado com especial atenção o trabalho da equipe da fundação.
Entre outras recentes ações, a Fundema lançou a cartilha do Plano de Educação Ambiental (PEA) através de Comunicação Social e Mobilização Pública no âmbito do Projeto Viva Cidade. Ela leva o nome "Qualidade Ambiental em Joinville: sua ação faz diferença!". São cinco mil cartilhas de 28 páginas que abordam algumas características ambientais do município, os desafios nas áreas de controle de inundações, água e esgoto, tratamento e destinação do lixo, preservação e educação ambiental e que serão distribuídas principalmente nas escolas. Mais uma excelente iniciativa que tem como objetivo criar um modelo de abordagem, disseminação das informações de educação ambiental e conscientização geral da população."
Quem também lá esteve no domingo (13/02), à tarde, quando estava a caminho da Arena (não sabia ele que assistiria uma derrota do JEC para o Metropolitano de 4X1 com gol contra, inclusive), foi Odir Nunes. Solícito, ele parou para atender o meu convite de uma conversa para o jornal e atrasou a chegada no campo. Só o liberei quanto ouvimos o foguetório na Arena e o motorista que o aguardava meteu a mão na buzina. Ficamos juntos apenas uns quinze minutos, mas não há dúvidas de que também vou convidá-lo para um papo mais longo de um jantar.
Aos dois líderes políticos meus especiais agradecimentos pelo pronto atendimento ao meu convite.
Para ler as matérias acesse a edição 747 de http://www.ovizinho.com.br/.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sobrevivi a três enfartes no mesmo dia

Uma leitora do blog, que o acessa através do meu facebook, por conta do meu atropelamento e dos encontros arriscados com os búfalos, me perguntou como está meu coração. Há poucos anos descobri que ele tem um defeito, quando sobrevivi a supostos três enfartes, seguidos, no mesmo dia. Creio que essa experiência vivida por mim possa ser útil para alguns leitores.
Eu morava em apto no bairro Aventureiro. Sozinho. Naquele dia tive emoções fortes de alegria por conta de uma conquista. Eu transpirava felicidade. Dormi muito bem até a madrugada. Acordei num salto sentado e berrando de dor no peito, no coração. Fora como se alguém tivesse enfiado muito rapidamente uma faca fina no meio dele.
Como a dor foi exagerada, facilmente localizei ser no coração. "Será que tive um sintoma de enfarte sendo tão jovem - apenas 47 anos?". Não quis correr risco. Vesti-me e vim para o centro, dirigindo, e eu estava normal. Apenas a dor da pontada. Meia hora depois, ao invés de ir ao hospital decidi ficar na empresa, há menos de 500 m do Dona Helena. Liguei os computadores e comecei a trabalhar. Era em torno de 5h da madrugada. A segunda "facada", agora ainda mais dolorida porque fora exatamente no mesmo lugar. Suei frio com outro grito.
Quase não chego ao hospital
Recobrei da dor e então fui para o hospital. Tão curta a distância, preferi caminhar. Na calçada do Shopping Cidade das Flores, à rua Mário Lobo, perto do ponto de ônibus, mais uma "facada", no mesmo ponto do coração. A dor foi tão insuportável que nem grito gerou, mas uma vertigem me pôs de joelhos e encostado na parede e um desmaio de alguns poucos segundos. Esse havia sido o segundo desmaio em toda a minha vida.
Quando voltei à consciência eu deveria estar muito mal na fotografia, porque um rapaz que vinha pela mesma calçada atravessou a rua quando me viu naquele estado. Deve ter pensado que cruzaria com um drogado ou alcoolizado, foi a leitura corporal que fiz dele.
Levantei convencido de que sobrevivera a três enfartes e cheguei à emergência do hospital me arrastando de tanta dor. Fui imediatamente atendido e levado às pressas ao explicar o que acontecera, pois não havia dúvidas de que era enfarte e só um milagre ainda me mantinha vivo; talvez eu não escapasse do quarto.
Os exames dos sintomas iniciais sinalizavam ao especialista tratar-se mesmo de um raro sobrevivente. Até o fim do dia exames mais minuciosos confirmaram que meu coração estava ótimo apesar de um "defeito raro".
Defeito no coração
Na linguagem simples que o médico usou para explicar-me eu a tenho repetido aos que conto esse episódio.
Os corações têm uma abertura máxima que é determinada por um "fio" como se fosse um controlador de "fim de curso" para que ele não abra mais que o necessário. Sob determinadas situações de forte emoção o coração bombeia mais rápido e com mais força podendo sobrecarregar esse "fio". No meu caso esse "fio cursor" é menor que o normal, mas nada que possa trazer qualquer problema cardíaco.
"Provavelmente", me disse o médico, "a felicidade do dia anterior acelerou o coração além do meu normal forçando esse 'fio'. O sintoma da dor é como se tivessem enfiado uma agulha ou faca fina no peito".
Entendi, vi as radiografias e me convenci da explicação. Médicos, enfermeiros e atendentes que já sabiam de um sobrevivente à três enfartes logo começaram a ter ciência desse caso anormal e então tudo se esclarecia para surpresa de alguns.
Desde então tenho cuidado ainda mais desse órgão tão fantástico do meu corpo e tomo cuidado para não deixar que as emoções se construam com muita força porque literalmente eu grito de felicidade.
Além do que tenho, na família, um ente querido que morreu de felicidade.
Felicidade também mata
Essa história, que ele não sabia, contei ao então prefeito de Joinville, Luiz Henrique da Silveira que era muito amigo do Capitão Silvio Silva e fora um dos maiores responsáveis por esse fato. Os dois tinham um amigo em comum, o Cel. Pedro Ivo Campos. Homens políticos e defensores das mesmas ideologias, quando o Cel. Pedro Ivo elegeu-se governador de Santa Catarina convidou o cap. Silvio Silva para ser o Gerente Regional Joinville da Casan. Ele aceitou e vivia um dos momentos de maior felicidade da sua vida por conta da confiança nele depositada pelo governador e pelo amigo LHS.
No dia do meu aniversário (13/04) o cap. Silvio Silva, que jovem no exército fora membro da segurança pessoal do presidente Juscelino Kubitschek, faleceu após internamento por um enfarte alguns dias antes que o colocara na UTI. Ouvi, de murmúrio dele, que fora a alegria que o infartara e não duvido, pois era um homem comedido em tudo. Portanto, sei que a felicidade também pode matar.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mergulho ao lado de animal selvagem

Você pode se imaginar numa praia subindo à superfície da água após um demorado mergulho e dar de cara com um enorme e selvagem búfalo na sua frente, no meio das ondas?
Pois, vivi essa experiência inusitada e outras inesquecíveis na Ilha de Marajó, no Pará, em pleno inverno (deles, lá o inverno é a época das chuvas que abundam neste período do ano). Se olhar atentamente na foto acima é fácil perceber o meu espanto, afinal o bicho não era pequeno...
Na maior ilha fluvio-marítima do mundo a população dominante é de búfalos. A grande maioria, selvagens. Esses animais não são nativos. Chegaram lá nadando e reproduziram aos milhares naquela imensa ilha de floresta amazônica. É lá que estão 80% da população brasileira desses bichos que são nativos da Ásia. Segundo os moradores da ilha um navio que carregava os animais afundou perto da costa brasileira e os que sobreviveram nadaram até a Ilha de Marajó.
Os selvagens são evitados, pois atacam até onças, o predador mais temido da selva. Segundo o biólogo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Salvatore Rossy, por serem animais invasores eles não têm predadores.
Para se ter uma idéia do quanto esse quadrúpede de carne saborosa é selvagem, em Rondônia uma manada de 20 deles estava sendo observada por aviões por uma equipe de pesquisadores. Ela entrou numa fazenda abandonada e se deparou com a sucata de um trator abandonado. Ao ver a máquina, um dos animais se assustou e correu para chifrar o veículo. Isso porque eles nunca haviam visto um trator. Na imaginação deles, aquilo era uma ameaça. Ao correr contra a máquina, o animal bateu com a cabeça na lâmina e morreu na hora. Para abater um animal desses só com um trator ou tiros de fuzis. Eles pesam mais de uma tonelada.
A Ilha de Marajó é o paraíso desses animais que adoram banhos de lama, também. Nas regiões povoadas, assim como os cavalos e os bois, muitos foram domesticados e prestam enormes serviços de carga e tração além do fornecimento de carne, leite, couro etc.
Lagos e igarapés também não escapam do desfrute desses animais. Portanto, é bom estar atento nos banhos porque são enormes as chances de você ter essa companhia e, garanto, mesmo os domesticados não são nada sociáveis com os estranhos.
Lembram-se daquela série da Rede Globo de televisão "No Limite". O primeiro programa foi numa fazenda na Ilha de Marajó. A iniciativa da Globo permitiu aos proprietários transformarem o local depois que o programa terminou e investiram no turismo ecológico haja vista o enorme marketing da TV.

A Fazenda São Jerônimo é um dos melhores locais para quem se dispõe a passar alguns dias ou semanas muito próximo da vida selvagem quase ao extremo. Foi na fazenda que um dos búfalos, daqueles que se deixam montar, me atacou.

Um bicho desse tamanho bufando e correndo para cima de você é assustador! Só porque eu o estava admirando. É um belo animal. Meu erro? Olhei nos olhos dele. Nem os domesticados se deixam encarar. Para eles isso é uma provocação. Só deixei que ele chegasse perto o bastante para essa foto e um pouco do bafo no meu rosto e descobri que estou em boa forma quando o assunto é correr.
Acredite, esse bicho aí de cima não estava bem intencionado...
Contam que se um animal desses aparecesse na tua casa com a "galhada florida", cheia de mato, ou folhas, ou flores etc. é um aviso de que algum parente morreu ou vai morrer naquele dia. Essa história não ouvi na Ilha de Marajó, mas quando, na madrugada, abri a porta da pousada e vi esse com a galhada florida... fiquei apreensivo por alguns instantes.

Eles são os donos da ilha. Desde que você não os olhe nos olhos, as manadas domesticadas dá para encarar um "abre alas que eu quero passar..."

Se a Ilha de Marajó fosse um estado a capital seria Soure. É o maior e mais bem estruturado município da ilha. Milhares de bicicletas, centenas de motos e poucos, raros são os veículos. Mesmo ali no centro urbano, na maior avenida de duas vias duplas com um largo canteiro central de frondosas mangueiras enfileiradas à perder de vista, os búfalos de vez em quando são maioria. Eles disputam (e levam vantagem principalmente com os turistas) as milhares de mangas que caem no chão.

Aliás, depois de comer as mangas da Ilha de Marajó dá raiva comer qualquer outra manga. Elas são pequenas e muito, muito doces. Inigualáveis. Todas as frutas de lá têm sabor especial. Tangencialmente localizada à linha do Equador, o sol é abundante, é direto, na ilha. Que sabor têm as frutas!!!
Se eu montei algum búfafo? Não, uma búfala, sim. Um passeio inesquecível ao mangue mais lindo que já vi na minha vida. Mas isso é para uma próxima postagem.


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fui atropelado e posto à nocaute

Essa postagem não tem imagens como nas anteriores, mas uma história que deverei contar para muitos

Na noite de ontem passei quase três horas na cozinha. Foi a primeira vez que preparei um galo caipira com aipim amarelo. Jantei comendo boas partes da saborosa comida (Nada que uma boa caminhada no dia seguinte não ajude a compensar o exagero gastronômico noturno).Vou repetir o que tenho dito cada vez que termino de cozinhar: "Quando eu escrever tão bem quanto cozinho serei um bom jornalista". O dia amanheceu agradável para isso. A trovoada com as fortes e longas chuvas de ontem deixaram a noite fresca e o amanhecer próprio para o exercício. Aliás, gosto de práticas que permitem ao meu corpo ser a força motriz. Nadar, remar, caminhar e pedalar procuro ao máximo. Pois, foi caminhando para o escritório central que no meio do caminho fui posto à nocaute.
Era a sétima hora da manhã do décimo primeiro dia do primeiro mês do décimo primeiro ano do terceiro milênio. Eu já estava na metade do caminho de uma caminhada de 40 minutos quando tentava atravessar a rua Visconde de Taunay que há muitos anos é mão única. Pedestres e cilclistas, desde a inauguração do calçadão e ciclofaixa que rodeiam a sede do 62 BI (Batalhão de Infantaria) no fim do ano passado, priorizam o local. Pedestres e ciclistas não se obrigam às regras de trânsito de mão e contra-mão, mas convém. Assim, eu caminhava na contramão para atravessar a referida rua em direção à calçada, ali na altura do Bierkeller.
Esquerda direta no fígado
Nesse ponto, uma curva fechada obriga ao pedestre atenção redobrada para não ser pego por veículos que surgem de repente. Então, a atenção é só para o lado esquerdo. Pois, do lado direito pedalava um trabalhador na contra-mão (nesse horário é pequeno o fluxo de veículos). Não o vi nem ouvi. Só senti o impacto que foi como se houvesse tomado um soco de um boxeador. Foi mais ou menos o que aconteceu. A mão esquerda no guidão foi quem acertou-me nas costelas naquele ponto que os boxeadores buscam incansavelmente atingir seus opositores. Foi uma esquerda direta no fígado.
Caí de quatro ralando bastante os joelhos ainda sem entender nada e vitimado por um desmaio de no máximo uns três segundos. Ato contínuo e já consciente ouço uma voz se desculpando. O homem estava perplexo e preocupado comigo. Ainda zonzo, precisei sentar-me (havia um providencial muro baixo) e a primeira coisa que disse foi: "Estás maluco. Vens na contra-mão e não olhas o que tem na frente!". Mas, logo em seguida sorri e disse para ele não se preocupar, apesar da forte dor nos joelhos.
Destruí a bicicleta
Incrível o que vi... A bicicleta entortou, a roda dianteira estava longe e o homem não conseguiu mais pedalá-la. Tudo isso na trombada com o meu corpo! Que muralha, pensei, sendo quase franzino.
Cinco minutos depois eu decidi continuar minha caminhada e me despedi do homem desejando que ele tivesse um bom dia. Senti pena dele. Afinal, foi um acidente. A calça roçando os joelhos me obrigaram a ir mais devagar, quase coxo. Ao chegar à empresa, sentei-me e tive uma vertigem pela dor na região do fígado e rin esquerdo. Não tive dúvidas. Fui imediatamente à emergência do Hospital Dona Helena que fica a menos de 500 metros.
Lembrança cavalar
Dezenas de radiografias e nenhum osso quebrado. Só a visão dos nós de duas costelas quebradas há alguns anos quando meu cavalo passou por cima de mim num tombo em que tentei segurar minha filha que caia do cavalo dela. A cela do meu não estava adequadamente presa (culpa do tratador que era o encilhador) e fiquei por alguns segundos naquela posição que se vê em desenho animado, pendurado embaixo do cavalo com a cela na barriga do animal. Quando meus pés se soltaram dos estribos o animal ainda estava em galope. Caí no chão e uma das patas traseiras pisou exatamente no local onde fui posto à nocaute hoje. Boas lembranças da minha relação com esses belos e gigantes animais (apesar da dor).
Mais de duas horas depois e consulta com especialistas, o jovem médico (Damiano S. Hemkemaier) deu-me uma lista de sintomas que se um deles se apresentar devo voltar à emergência. "Observação rigorosa pelas próximas 48 horas", alertou o simpático médico. Então, estou me observando, ralado e dolorido, mas como sou "patrão", como disse o outro médico que queria me dar um atestado médico, estou trabalhando.
Em Joinville, que já foi considerada a "Cidade das bicicletas", ciclovias e ciclofaixas e trânsito cada vez mais congestionado estimulam pedestres e ciclistas. Há três anos que evito usar o carro muito mais por uma preocupação ambiental. Aprendi, nas costelas, que devo ser mais cuidadoso. Tentarei.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Brincando com a lua

Na postagem anterior revelei um pouco do que tenho ao redor do lugar onde moro. Comecei mostrando a imagem do alvorecer. Pois o fim do dia também oferece, no mesmo horizonte, outro espetáculo
De vez em quando "brinco" com a lua e as luzes de parte da cidade produzindo imagens que gosto muito
Antes de mostrar outras dessas "obras", na postagem anterior também falei e mostrei algumas aves exóticas. Faltou mostrar uma das mais belas, pelo seu tamanho (quase o de um peru) e socialização (muito mansa).
Trata-se do Jacu. Este parece liderar o bando barulhento (são muito barulhentos!) que até na garagem já estiveram e foram enxotados para que não devorassem algumas plantas e flores de um dos jardins. Mas, voltemos às minhas brincadeiras com a lua.

Da varanda vê-se, em algumas épocas do ano, tanto o sol quanto a lua nascerem quase no mesmo ponto da linha do horizonte. Em alguns dias é possível ver o sol subindo ao leste e a lua se pondo a oeste  que são as laterais da casa que tem a frente voltada para o sul. Para se apreciar esse fenômeno matinal dos astros que nunca se encontram basta posicionar-se no centro da casa.
Seguem mais algumas imagens noturnas do meu passatempo "brincando com a lua":

Apesar de o Cemitério Municipal estar próximo, estes não são "Fogos Fátuos", apesar de ser assim que identifico esta imagem. Podem me ajudar a nominar as demais:


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Bons lugares para viver

Assim começam meus dias quando ensolarados
Minha relação com a natureza a considero umbilical. Vivi por alguns poucos anos no Condomínio Naturista Morro da Tartaruga, que criei com alguns amigos naturistas ao lado da Praia do Pinho em Balneário Camboriú, SC. Acreditava que dificilmente encontraria um lugar tão bom para viver. Enganei-me. Desde 2009 resido ao lado de uma área de preservação.
Além do belo espetáculo do nascer do sol, as manhãs são regidas por sinfonias que, nos meses de verão, têm predominância dos cantos das cigarras. Mas, as aves como Jacus (bandos), sabiás, saíras de sete cores, tiés, canários, tucanos entre outras espécies são abundantes.

Alguns desses emplumados entram na casa e ficam presos nos vidros. Exaustos, se deixam pegar e descansam por longos tempos até nas minhas mãos. Sem aviso, recuperados, vão embora, mas por pouco tempo. Logo voltam para o tratador que mantenho com sementes, frutas e líquidos perto de uma das janelas da casa. Deleito-me apreciando-os todos os dias.
Quase no topo de um morro e rua sem saída, o local oferece uma privacidade antagônica com a tangência do caos urbano do centro da mais industrializada cidade do Estado.
Rodeada por belíssimo jardim, a profusão de folhagens e flores pinta um quadro também contemplativo como paisagem.
Cores as mais diversas formam um mosaíco que só a natureza é capaz de tão harmônica mistura
Além da diversidade de espécies, algumas multiplicam essa variedade com as mudanças de cores e tonalidades

 A orquídea, flor símbolo de Santa Catarina e também de Joinville - que é conhecida como "Cidade das Flores" -, é outra que ornamenta os jardins. Nem todas as flores, no entanto, exibem-se por vários dias ou até semanas.
Na sequência, a Dama da Noite é daquelas flores exóticas, do tipo que a maioria não investiria em cuidados para vê-la apenas por uma noite. Ela floresce apenas uma única vez e durante a noite obedecendo o relógio biológico da natureza. Ao amanhecer fecha-se e em poucas horas cai. Já fiquei horas ao lado vendo-a abrir numa velocidade de câmera muito lenta até o seu clímax.

Noutro dia chuvoso, uma saíra militar brincava com seu reflexo no retrovisor do veículo.

Consideradas comuns, as rosas também perfumam o ambiente que convidam à interação mais intimista.

Esta é daquelas que pode inspirar o poeta que adormece em algumas almas. Por enquanto, talvez por minha insensibilidade, nenhuma delas despertou-me para a escrita de versos.
Quase sempre os fundos de quintais são poucos atrativos. Aqui tenho o privilégio de uma vastidão de mata com árvores frondosas e este buganville pintando o verde visto da porta dos fundos.

Ao completar um ano vivendo nesse local já podia afirmar que moro num lugar acolhedor, encantador. Na noite de 4 de janeiro 2010 fui surpreendido com um grande número de veículos estacionando em frente à minha casa. Estranhei. Logo compreendi. Um grupo com mais de uma dezena de pessoas desceu com instrumentos até à casa de meus vizinhos. Assisti, pela primeira vez, da minha varanda, um Terno de Reis que aplaudi com entusiasmo. Quando eles foram embora presentearam-me cantando em frente ao meu portão. Recebi o presente daqueles estranhos como um dos melhores da minha vida. Era o Grupo Alegria. Fotografei-os. Num descuido, perdi todas as fotos. Lamento. Lamento...


Na noite seguinte, amigos que moram em Washington, entre eles um poeta (João Luiz), ocuparam a mesma varanda. São momentos como esse que quebram o silêncio estimulante à meditações, reflexões...
Este é o meu. Quem não deseja ter seu porto seguro?

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

"Solar" Leitura de Férias

Férias, Leituras e Reflexões na Ilha das Flores
Mais de uma centena de ilhas compõem o ecossistema da Baía Babitonga. Um lugar paradisíaco que poucos conhecem e menos ainda desfrutam. Há mais de dez anos este ponto geográfico do planeta tem propiciado meus melhores encontros, principalmente com a natureza, apesar de toda a degradação ambiental promovida pela ocupação irregular e desenfreada das margens de rios, lagoas e litorais, bem como os desmatamentos de remanescentes originais de Mata Atlântica e mangues. Meu brinquedinho favorito me permite esses inesquecíveis encontros.

Algumas ilhas praticamente ninguém nelas pisam. Especiais para o isolamento que algumas vezes necessito. Outras são pontos turísticos de embarcações que trazem algumas dezenas de visitantes que caminham pelas areias finas ou molham seus pés onde micro ondas rebentam suspendendo milhares de pontos dourados do conhecido "ouro de tolo". Esses visitantes têm apenas meia hora para esse contato. Durante um dia na Ilha das Flores, o silêncio é quebrado pelo tagarelar dos deslumbramentos apenas uma vez no período da manhã e outra no da tarde.

O nome da ilha é perfeitamente compreendido, mas que também é rodeada de pedras com suas bases - até onde a água as cobre nos picos de marés altas -, cobertas de ostras. Mangue é o nome da planta que suas folhas são alimento dos saborosos carangueijos. A árvore empresta seu nome para todo esse ecossistema que é o útero e a maternidade do Planeta Terra.








Impressiona ver a capacidade dessa planta se adaptar em local aparentemente tão estéril e produzir árvores de singular beleza. Elegantes.

Escrevo muito mais do que leio. Nos meus descansos, nos períodos de curtas férias, livros me acompanham.
Foi nesse ambiente que li, em dois dias, "Solar", de Ian McEvan. Ficção da melhor realidade, é uma leitura imperdível, de romance ficcional. Foi nesse mesmo ambiente geográfico que noutras curtas férias li duas obras citadas em "Solar". De Jared Diamond, "Colapso" e "A Vingança de Gaia", de James Lovelock. Sugiro a quem ainda não as leu que o faça nessa ordem: Solar, A Vingança de Gaia e Colapso.


Agora estou lendo meu presente de Natal: "A Sangue Frio", de Truman Capote. Já assisti o filme. Duas excelentes obras. Boas Festas de Ano Novo. Até 2011.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ícones da bruxa do "Sótão"

Cenário original encontrado numa das casas da Tacolindner

A partir da decisão de produção do espetáculo "Sótão" alguns momentos foram marcantes. O primeiro encontro já relatado neste blog tem detalhes de contextualização. O que precisamos destacar um pouco mais foi a solicitude do empresário e ex-vereador Gilmar Ferreira. Aquele primeiro encontro do grupo deu início ao processo criativo do espetáculo e o ambiente proporcionado pelo sítio e a casa foram decisivos ao resultado final da peça.
Harry Lindner demonstrou entusiasmo ao projeto do Sótão. "Se é para isso (produção do espetáculo do teatro) podem usar tudo aqui a vontade".

Outro encontro destaca-se no processo criativo e contou com o apoio da família Lindner. Cumpre à produção agradecer ao empresário Harry Lindner que prontamente abriu as portas da empresa liberando um encontro noturno numa das casas na propriedade às margens da BR 101. Desde aquele evento que o grupo se anima para a produção de um vídeo ou de filme no local. O assunto começa a tomar corpo na intenção.
Estes dois encontros (sítio do Ferreira e empresa Tacolindner) foram preciosos para a definição do espetáculo.

Leia mais sobre o "Sótão" neste blog:
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/12/dois-dos-bastidores-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/tateando-ao-redor-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/sotao-retorna-em-marco-no-aniversario.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/retire-o-seu-ingresso-com-uma-hora-de.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/selecao-de-fotos-do-sotao-para-imprensa.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/bruxas-e-lobisomens-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/folder-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/em-cartaz-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/10/sotao-estreia-no-sesc-joinville.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/05/o-encontro-do-santo-com-o-lobisomem.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/05/lobisomem-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/04/carlos-franzoi-no-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2009/10/sotao-premiado.html

Mais informações: 47 3433.9121 – Ipê Produções, produtor@ipeproducoes.com.br

Ficha técnica:
Apresentação: Grupo Roca de Teatro
Direção: Ilaine Melo e Franzoi
Dramaturgia: Ilaine Melo
Atuação: Ilaine Melo e Muriel Szym
Cenografia e figurino: Franzoi
Cenotécnica: Altamir Andrade
Iluminação e som: Maíra Correia Lemos
Apoio: Fernando Felippi
Direção musical e trilha sonora original: Fábio Cabelo
Material gráfico: Iago Sartini
Foto da arte gráfica: Cassios Nogueira
Fotos do espetáculo: Pena Filho
Produção: Ipê Produções
Apoio: SESC/SC Joinville, Dionisos Teatro e MAJ - Museu de Arte de Joinville
Patrocínio: JOV - Jornal O Vizinho
Realização: Edital Elizabete Anderle de Incentivo à Cultura da Fundação Catarinense de Cultura do Governo do Estado de SC
Origem: Histórias de Nossa Gente, projeto premiado pelo Governo Federal com o Prêmio Miriam Muniz da Funarte

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dois dos bastidores do Sótão

Maíra não resistiu. Que bom!
Maíra ensaia luz e som com apoio do técnico de som e luz do Sesc, Júlio César Schwochow

Maíra vinha acompanhando alguns ensaios. Quando percebeu que podia se envolver o fez com dedicação. A iluminação do espetáculo foi precisa, com tão pouco treino. Agora, ela está na equipe. Seja bem vinda.

Ela não foi a única. Um contra-regra foi contratado para ajudar na divulgação. Fernando fez a colagem de mais de 200 cartazes pela cidade e distribuiu cinco mil filipetas. Dedicado, convidamos para ajudar nas três noites de apresentação. Solícito. Sempre que ele puder será convidado a acompanhar o espetáculo. Em menos de meia hora Fernando deixou o teatro vazio. Cenário completamente desmontado e dentro da pick-up.

Fernando preparando o cenário no camarim do teatro do Sesc Joinville

Hoje, 23 de março de 2013, volto a esta postagem que fiz em 01 de dezembro de 2010. Como o tempo voa!
Agora, para lamentar a perda desse menino que tanto me ajudou na nossa empresa quanto neste espetáculo. Aos familiares e amigos do Fernando Felippi, nossos mais profundos sentimentos de solidariedade.

Leia mais sobre o "Sótão" neste blog:
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/tateando-ao-redor-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/sotao-retorna-em-marco-no-aniversario.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/retire-o-seu-ingresso-com-uma-hora-de.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/selecao-de-fotos-do-sotao-para-imprensa.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/bruxas-e-lobisomens-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/folder-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/11/em-cartaz-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/10/sotao-estreia-no-sesc-joinville.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/05/o-encontro-do-santo-com-o-lobisomem.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/05/lobisomem-do-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2010/04/carlos-franzoi-no-sotao.html
http://jornalistaandrade.blogspot.com/2009/10/sotao-premiado.html

Mais informações: 47 3433.9121 – Ipê Produções, produtor@ipeproducoes.com.br

Ficha técnica:
Apresentação: Grupo Roca de Teatro
Direção: Ilaine Melo e Franzoi
Dramaturgia: Ilaine Melo
Atuação: Ilaine Melo e Muriel Szym
Cenografia e figurino: Franzoi
Cenotécnica: Altamir Andrade
Iluminação e som: Maíra Correia Lemos
Apoio: Fernando Felippi
Direção musical e trilha sonora original: Fábio Cabelo
Material gráfico: Iago Sartini
Foto da arte gráfica: Cassios Nogueira
Fotos do espetáculo: Pena Filho
Produção: Ipê Produções
Apoio: SESC/SC Joinville, Dionisos Teatro e MAJ - Museu de Arte de Joinville
Patrocínio: JOV - Jornal O Vizinho
Realização: Edital Elizabete Anderle de Incentivo à Cultura da Fundação Catarinense de Cultura do Governo do Estado de SC

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tateando ao redor do "Sótão"

A iniciativa do ator e diretor de teatro Samuel Ivan Kühn de escrever e enviar esse texto aos integrantes do espetáculo de teatro "Sótão" teve a imediata receptividade do grupo e valorização das análises críticas. A próxima turnê já deverá conter fragmentos dessa análise construtiva. O texto está servindo para reflexões, repensares e interferências...




































Crítica de Samuel Kühn, em novembro de 2010
"Partindo do princípio de que todo espectador que assiste a um espetáculo e comenta-o faz uma análise (ipso facto), proponho-me a fazer um relato para além das falas mais soltas que se perdem e, assim, compor um material carinhoso e, desejo, reflexivo ao grupo. O objetivo não é uma publicação, mas um possível documento criticizado para Ilaine, Muriel, Cabelo, Franzoi e demais componentes do trabalho SÓTÃO. Peço a ressalva natural que o verbo necessita diante do inefável, da arte. E disso, recordo Pavis que diz “Analisar, de fato, é decompor, cortar, fatiar o continuum da representação em camadas finas ou em unidades infinitesimais, o que evoca mais o trabalho de um açougueiro ou um ‘despedaçamento’ do que uma visão global da encenação e pela encenação.” Que seja mais um relato pretensioso que uma proposta analítica.
Sabendo que Ilaine colhia histórias pela região de Joinville, esperei por vê-las em cena. Porém, não sabia que tipo de histórias poderia vir, sabia que seria de uma ordem popular e que, provavelmente, tocassem algumas questões de fé, de metafísica, de risível e de uma boa dose da mais deliciosa mentira. Assim foi.
Antes de entrar no espaço, o terceiro sino de maneira inusitada levou-me à primeira suspensão da realidade. Então, deparei-me com Muriel: olhar profundo, carregado de uma vida, vida cansada, e uma bela composição visual, traços de luzes definidos em primeiro e segundo planos. Até me sentar tive receio de bater em algum vaso, derrubar parte do cenário, e pensei: pouca luz, sótão, que não venha algum morcego. Mas esse último não viria pela clara limpeza de tratamento das luzes do espetáculo ou por motivos de IBAMA. Embora escuro e claro estivessem presentes, as linhas eram bem definidas, afinadas convencionalmente, colocando-nos (público) na atmosfera do edifício teatral. Nesse momento: o material gráfico, o Sótão, as futuras rudimentares histórias sofreram uma intervenção do espaço ao ponto de deslocá-los.
Algumas são as opções feitas à observação: o ator, ser principal da arte teatral dramática e que todo o restante deve compor à sua representação, o espaço, tema em debate reticente e interminável e a linguagem.
Com pouca luz, Muriel inicia com narrativas densas em que a morte está presente e coloca-nos em apreensão por saber que o que está sendo dito partiu de histórias reais. Soluços secos. A voz do ator possui características distintas: é arranhada, prestando rusticidade e nebulosidade favoráveis à história; é difícil de compreender em volume e articulação.
Gostaria de chamar atenção à sublime plasticidade com que as palavras dos seios ressequidos (secos) formaram com as bolsas únicas e toda a primeira parte ou cena do espetáculo. Ali, sem dúvida, havia uma ferocidade de vida seca(ndo). No entanto, foi a primeira vez que a semi-arena me incomodou. Havia, claramente, um distanciamento, um quadro a ser fruído ou contemplado a certa distância, mas que a disposição do público a fez se perder.
Até então, o espetáculo estava sendo tomado por uma postura épica, a qual foi quebrada em seguida quando os atores solicitaram a participação do público para acenderem velas e carregarem até o centro da cena. Em primeira instância, era uma fogueira às avessas, o fogo estava em nós, iluminando-nos. Após, invertemos e construímos uma fogueira mais tradicional – fogo ao centro, pessoas ao redor. Bem, será que agora o público será chamado para contar as suas histórias? Esse ritual será democratizado? Vale a pena ser? Aí, dois focos de luz respondem. Não. Serão os atores. Aqui cabe uma reflexão: a encenação passou do épico para o teatro celebração e, tão logo, a uma proposta dramática. Particularmente gosto das três – gosto é sempre redutor e partidário – mas a costura, penso, precisaria de uma revisão, assim fragiliza o espetáculo. Os vasos desapareceram, as bolsas-seios perderam o sentido, o público foi chamado à cena e descartado ao fim de algumas narrativas.
A partir desse momento, os atores ganham um brilho maior. Há o abandono das construções visuais mais trabalhadas e ressaltam as virtuoses de dois contadores de histórias com vasta experiência. Ilaine não apenas conta ou fala, ela consegue distintamente carregar com seu vigoroso corpo e voz todos os espectadores, levando-nos em um barco, por exemplo. Muriel, não tão complexo quanto Ilaine, constrói por empatia, humor e espontaneidade uma relação sincera e divertida com o público, ressalto a boa desenvoltura. A leveza e a fluidez ganham força e dão outra substância ao espetáculo, mesmo com dois elipsoidais rasgando burocraticamente o celebrativo.
Esse caráter de contação de histórias e empatia dos atores firma a cena seguinte. É agradável ver a disputa bem humorada sobre as cobras e, parece-me, que o espaço é o próprio corpo do ator – isso muito me agrada (particularidades). O espetáculo havia abandonado a poética inicial, evidentemente.
Na cena posterior, imbuídos de efeitos celebrativos potentes, porém enfraquecidos pela fragmentação das cenas, há outra bela composição visual: o entrelaçamento da nudez com seios fartos e a força poética composta pelos panos de Franzoi reportam à linguagem inicial do espetáculo.
Vejo três formas interessantes, mas que necessitariam de uma costura mais delicada, pois são caminhos diferentes que custam dialogar. O espetáculo é sensível, inegavelmente. Os atores são vividos e Muriel ainda pode investir mais nessa sua capacidade para lidar com as primeiras histórias. Ilaine tem o peso da solidez do espetáculo com o valor de uma pena. As luzes, por vezes, muitas vezes, são belas composições, por outras desconfiguram outras importâncias – opções de direção. A trilha sonora poderia ser mais aproveitada, inclusive iluminando o executor. Este está presente e negado em grande parte do evento. Por isso, vale outra reflexão: se Cabelo, que esbanja timidez, pudesse acreditar no seu valor cênico, com luz e confiança, poderiam chegar a outros resultados e inferências. As músicas são lindas, mas o diálogo entre os atores e o músico – não a música ou a trilha, digo o músico – é rasteiro e hierarquizado.
Espero que esse exercício de relato possa, de alguma forma, contribuir com a vida do SÓTÃO. Esse é o objetivo maior. Foi um prazer escrever para o grupo. Vida longa ao trabalho."

Samuel Ivan Kühn é professor do Colégio Bom Jesus, ator e diretor teatral - Joinville, SC.

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Mais informações: 47 3433.9121 – Ipê Produções, produtor@ipeproducoes.com.br

Ficha técnica:

Apresentação: Grupo Roca de Teatro
Direção: Ilaine Melo e Franzoi
Dramaturgia: Ilaine Melo
Atuação: Ilaine Melo e Muriel Szym
Cenografia e figurino: Franzoi
Cenotécnica: Altamir Andrade
Iluminação e som: Maíra Correia Lemos
Apoio: Fernando Felippi
Direção musical e trilha sonora original: Fábio Cabelo
Material gráfico: Iago Sartini
Foto da arte gráfica: Cassios Nogueira
Fotos do espetáculo: Pena Filho
Produção: Ipê Produções
Apoio: SESC/SC Joinville, Dionisos Teatro e MAJ - Museu de Arte de Joinville
Patrocínio: JOV - Jornal O Vizinho
Realização: Edital Elizabete Anderle de Incentivo à Cultura da Fundação Catarinense de Cultura do Governo do Estado de SC

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sótão retorna em março no aniversário de Joinville

Ilaine comemora sucesso do espetáculo

As dezenas de pessoas que voltaram frustradas para casa porque não conseguiram assistir ao espetáculo de teatro “Sótão” que teve estreia na sexta-feira, 26 de novembro, para convidados e apresentações gratuitas ao público no fim de semana, podem agendar. A peça já está contratada pelo Sesc Joinville para apresentações como um dos eventos comemorativos ao aniversário do município em março do próximo ano. Era o que informava aos que chegavam no teatro quinze minutos após abrir a bilheteria o técnico do setor de cultura do Sesc, Cassio Fernando Correia.A encenação de histórias da tradição oral de Joinville e região trouxe ao teatro bruxas, lobisomens e assombrações. A obra é intimista e o público interage no espetáculo contracenando com os três atores joinvilenses.

Muriel Szym e o técnico de cultura do Sesc Cassio Correia vibram com as três noites lotadas

A pesquisa, que resultou na produção da dramaturgia do espetáculo, teve início em 2006 e foi realizada pela historiadora Ilaine Melo. O projeto foi patrocinado pelo Governo Federal com o Prêmio Funarte de Teatro Mirian Muniz que permitiu contato com moradores das comunidades do Morro do Amaral, Estrada Palmeira, Quiriri (Joinville), Vila da Glória (São Francisco do Sul) e Itapocu (Araquari).
Em 2009 o Governo do Estado de Santa Catarina selecionou o projeto de produção do espetáculo teatral. “Sótão” disputou o edital Elisabete Anderle de Incentivo à Cultura com outros quase dois mil projetos e foi um dos 189 selecionados. Além dos recursos públicos a obra recebeu apoio de entidades como o Sesc Joinville, Dionisos Teatro, Museu de Arte de Joinville e patrocínio do Jornal O Vizinho.
A diretora do jornal diz que O Vizinho sempre esteve comprometido com atividades artísticas e culturais. Quando o veículo fez dez anos a peça de teatro “Amor Cachorro” foi o evento comemorativo. “Agora, para os vinte anos que o jornal completa em abril de 2011, Sótão é o evento de comemoração”, diz Fabiane Carvalho.
Com direção conjunta de Ilaine Melo e Carlos Franzoi, o espetáculo é encenado por Muriel Szym, Fabio Cabelo e Ilaine Melo do grupo Roca e produção da Ipê Produções.

Franzoi (direita) recebe público na porta do teatro do Sesc

Ficha técnica:
Apresentação: Grupo Roca de Teatro
Direção: Ilaine Melo e Franzoi
Dramaturgia: Ilaine Melo
Atuação: Ilaine Melo e Muriel Szym
Cenografia e figurino: Franzoi
Cenotécnica: Altamir Andrade
Direção musical e trilha sonora original: Fábio Cabelo
Material gráfico: Iago Sartini
Foto da arte gráfica: Cassios Nogueira
Fotos do espetáculo: Pena Filho
Produção: Ipê Produções
Apoio: SESC/SC Joinville, Dionisos Teatro e MAJ - Museu de Arte de Joinville
Patrocínio: JOV - Jornal O Vizinho
Realização: Edital Elizabete Anderle de Incentivo à Cultura da Fundação Catarinense de Cultura do Governo do Estado de SC

Mais informações: 47 3433.9121 – Ipê Produções, produtor@ipeproducoes.com.br
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