Uma leitora do blog, que o acessa através do meu facebook, por conta do meu atropelamento e dos encontros arriscados com os búfalos, me perguntou como está meu coração. Há poucos anos descobri que ele tem um defeito, quando sobrevivi a supostos três enfartes, seguidos, no mesmo dia. Creio que essa experiência vivida por mim possa ser útil para alguns leitores.
Eu morava em apto no bairro Aventureiro. Sozinho. Naquele dia tive emoções fortes de alegria por conta de uma conquista. Eu transpirava felicidade. Dormi muito bem até a madrugada. Acordei num salto sentado e berrando de dor no peito, no coração. Fora como se alguém tivesse enfiado muito rapidamente uma faca fina no meio dele.
Como a dor foi exagerada, facilmente localizei ser no coração. "Será que tive um sintoma de enfarte sendo tão jovem - apenas 47 anos?". Não quis correr risco. Vesti-me e vim para o centro, dirigindo, e eu estava normal. Apenas a dor da pontada. Meia hora depois, ao invés de ir ao hospital decidi ficar na empresa, há menos de 500 m do Dona Helena. Liguei os computadores e comecei a trabalhar. Era em torno de 5h da madrugada. A segunda "facada", agora ainda mais dolorida porque fora exatamente no mesmo lugar. Suei frio com outro grito.
Quase não chego ao hospital
Recobrei da dor e então fui para o hospital. Tão curta a distância, preferi caminhar. Na calçada do Shopping Cidade das Flores, à rua Mário Lobo, perto do ponto de ônibus, mais uma "facada", no mesmo ponto do coração. A dor foi tão insuportável que nem grito gerou, mas uma vertigem me pôs de joelhos e encostado na parede e um desmaio de alguns poucos segundos. Esse havia sido o segundo desmaio em toda a minha vida.
Quando voltei à consciência eu deveria estar muito mal na fotografia, porque um rapaz que vinha pela mesma calçada atravessou a rua quando me viu naquele estado. Deve ter pensado que cruzaria com um drogado ou alcoolizado, foi a leitura corporal que fiz dele.
Levantei convencido de que sobrevivera a três enfartes e cheguei à emergência do hospital me arrastando de tanta dor. Fui imediatamente atendido e levado às pressas ao explicar o que acontecera, pois não havia dúvidas de que era enfarte e só um milagre ainda me mantinha vivo; talvez eu não escapasse do quarto.
Os exames dos sintomas iniciais sinalizavam ao especialista tratar-se mesmo de um raro sobrevivente. Até o fim do dia exames mais minuciosos confirmaram que meu coração estava ótimo apesar de um "defeito raro".
Defeito no coração
Na linguagem simples que o médico usou para explicar-me eu a tenho repetido aos que conto esse episódio.
Os corações têm uma abertura máxima que é determinada por um "fio" como se fosse um controlador de "fim de curso" para que ele não abra mais que o necessário. Sob determinadas situações de forte emoção o coração bombeia mais rápido e com mais força podendo sobrecarregar esse "fio". No meu caso esse "fio cursor" é menor que o normal, mas nada que possa trazer qualquer problema cardíaco.
"Provavelmente", me disse o médico, "a felicidade do dia anterior acelerou o coração além do meu normal forçando esse 'fio'. O sintoma da dor é como se tivessem enfiado uma agulha ou faca fina no peito".
Entendi, vi as radiografias e me convenci da explicação. Médicos, enfermeiros e atendentes que já sabiam de um sobrevivente à três enfartes logo começaram a ter ciência desse caso anormal e então tudo se esclarecia para surpresa de alguns.
Desde então tenho cuidado ainda mais desse órgão tão fantástico do meu corpo e tomo cuidado para não deixar que as emoções se construam com muita força porque literalmente eu grito de felicidade.
Além do que tenho, na família, um ente querido que morreu de felicidade.
Felicidade também mata
Essa história, que ele não sabia, contei ao então prefeito de Joinville, Luiz Henrique da Silveira que era muito amigo do Capitão Silvio Silva e fora um dos maiores responsáveis por esse fato. Os dois tinham um amigo em comum, o Cel. Pedro Ivo Campos. Homens políticos e defensores das mesmas ideologias, quando o Cel. Pedro Ivo elegeu-se governador de Santa Catarina convidou o cap. Silvio Silva para ser o Gerente Regional Joinville da Casan. Ele aceitou e vivia um dos momentos de maior felicidade da sua vida por conta da confiança nele depositada pelo governador e pelo amigo LHS.
No dia do meu aniversário (13/04) o cap. Silvio Silva, que jovem no exército fora membro da segurança pessoal do presidente Juscelino Kubitschek, faleceu após internamento por um enfarte alguns dias antes que o colocara na UTI. Ouvi, de murmúrio dele, que fora a alegria que o infartara e não duvido, pois era um homem comedido em tudo. Portanto, sei que a felicidade também pode matar.
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