Chegou à Defensoria Social, denúncia de que o local está recebendo aterro, sob responsabilidade da Construtora Conterra, de rejeitos industriais contaminados. A obra é para edificar 175 casas de 43,5 metros quadrados com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço em lotes individualizados de 120 metros quadrados.
O loteamento também vai ganhar uma praça com academia ao ar livre e ruas pavimentadas, além de abastecimento de água, saneamento básico e iluminação pública. Trata-se do Loteamento Canoas Minha Terra 1, mais uma obra do programa do Governo Federal "Minha Casa, Minha Vida" financiado pela CAIXA, para reassentar moradores das margens da rodovia BR 448, obra do DNIT em andamento na grande Porto Alegre. A iniciativa tem marketing humanista, não fosse a realidade desumana que se apresenta.
Pudemos confirmar a denúncia. Inclusive com placas que anunciam: "Cuidado, Risco de Vida", "Perigo! Afaste-se".
Uma das placas está próxima ao local onde a construtora deposita a areia branca
Apenas duas placas em toda a obra. Uma delas ao lado desse monte de areia branca que, segundo a denúncia, trata-se de areia de fundição, areia de macharia, triturada. As ADFs (Areias Descartáveis de Fundições), principalmente as de macharia, contêm, em sua composição, altos teores de fenóis, elementos químicos altamente tóxicos, cancerígenos, que devem ser depositados exclusivamente em aterros industriais controlados.
A outra placa está próxima ao local onde a construtora deposita os montes de areias escuras
A outra placa, ao fundo, ao lado de outros dois montes de areia escura, tipicamente de fundições, que também deveriam ser depositadas em aterros controlados, mas que um movimento liderado por Joinville, SC, já vem permitindo algumas iniciativas de reúso em obras de pavimentação, produção de lajotas etc, em alguns estados brasileiros.
Em todo o restante do canteiro de obras, apesar dos imensos buracos e valas de saneamento, nenhuma outra placa chama a atenção para o "Risco de Vida", o que se leva a supor que os responsáveis sabem o risco que essas areias oferecem à vida humana...
Ambientalistas denunciam o grave erro de governantes que se rendem às pressões do poder econômico e se mobilizam para reverter essas leis e, principalmente, que esses rejeitos não possam ser usados na agricultura, como defende a maior fundição do mundo do setor, a Tupy Fundições S.A. de Joinville, SC.
Num dos poços percebe-se várias cores diferentes de areias e argilas usadas na obra
Mais uma vez acontece a velha prática empresarial apoiada por governos e políticos de socializar o prejuízo, não o lucro. Fundições, em todo o mundo, têm enormes passivos ambientais e se mobilizam para transformar esse problema em lucro para seus caixas, mesmo que a humanidade pague o preço com doenças graves ou a morte de milhares.
Como se pode conferir ao longo de toda a obra o terreno não está recebendo apenas o barro comum (argila) de um aterramento, mas areias e compostos típicos de rejeitos industriais.
Outro poço revela que o local já deveria ser um aterro de rejeitos industriais
Morador vizinho afirma que o local já recebia aterro de empresas, tanto que a rua que passa em frente é a Rua do Aterro. O que se pode confirmar nas escavações da obra é que há várias camadas diferentes de "solo" formado por areias escuras de tonalidades variadas, misturadas com argila e areia clara.
Areias escuras servem também de base para as calçadas do loteamento
As areias escuras não estão apenas nas partes mais profundas da obra.
Estão servindo também para assentar as calçadas e as ruas do loteamento
Observe nas fotos seguintes, em vários pontos da obra:
A denúncia e as fotos confirmam a suspeita de que o local já era um depósito inadequado de rejeitos industriais e que agora recebe uma obra de loteamento onde também se usa rejeitos industriais.
Colhi amostras das diversas areias, fiz filmagens e fotos da coleta e fiquei surpreso que vizinho da obra soubesse que as areias vêm de empresas. "De Cachoeirinha, RS. Estão reciclando. Isso é bom né", afirmou, questionando, o senhor que pediu para não ser identificado.
Pequeno rebanho lambia o solo enquanto "passeava" pelo loteamento na ensolarada manhã do último domingo de setembro de 2012
Os irracionais animais que caminham e ingerem essas areias não devem ser bichos de estimação, mas provavelmente produzem leite ou fornecerão carne para centenas de famílias.
Dezenas de operários que trabalham na obra não devem ter consciência dos riscos que correm suas vidas e saúde por conta das areias contaminadas que estão manipulando, caso se confirme que sejam rejeitos industriais de fundições.
Se confirmado o crime, mais de uma centena de famílias, de uma classe social marginalizada, continuará sendo penalizada ou, no mínimo, tratada diferenciadamente para viverem com seus filhos sob um solo envenenado, em mais uma afronta à Constituição.
Assim, tendo atuação destacada na defesa de populações vítimas de áreas contaminadas com reflexos na saúde pública, a Defensoria Social, que vem desenvolvendo intensa luta contra o descarte ilegal e irregular de rejeitos industriais, em especial rejeitos de fundições, ao tomar conhecimento desse "grave crime ambiental que está em curso na cidade de Canoas" deve formalizar denúncia à Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessle) para uma avaliação científica dos níveis de contaminação para imediata remediação e a correta destinação do material retirado e remanescentes contaminados para aterro industrial, nos termos da legislação vigente e das normas da ABNT respectivas.
Leia mais sobre o tema neste blog:
http://www.jornalistaandrade.blogspot.com.br/2012/09/deus-tremendo-filho-da-puta.html
http://www.jornalistaandrade.blogspot.com.br/2012/09/acontecimentos-inesperados.html
http://www.jornalistaandrade.blogspot.com.br/2012/08/dialogos-para-um-brasil-sustentavel.html
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