domingo, 2 de setembro de 2012

Acontecimentos inesperados, consequências de incalculáveis repercussões


Na Rio+20, alguns impedimentos determinaram acontecimentos inesperados e consequências de incalculáveis repercussões.
Um jornalista moçambicano, por exemplo, foi impedido de participar do evento. Ao descer no aeroporto em São Paulo foi preso e posto de volta no primeiro voo ao seu país. Integrante da Justiça Ambiental - Amigos da Terra, Jeremias Vunjanhe faria denúncias contra a gigante brasileira Vale que, segundo a entidade ambientalista, vem promovendo graves problemas socioambientais em Moçambique, África. A mineradora foi uma das apoiadoras da Cúpula da ONU e o ambientalista nem chegou a por os pés na Cidade Maravilhosa.
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, que no seu discurso de abertura fez críticas ao evento responsabilizando negativamente o governo brasileiro, no encerramento da Conferência Mundial do Meio Ambiente, constrangido, obrigou-se a um discurso inverso e contraditório em relação ao seu primeiro pronunciamento e a opinião das entidades ambientalistas nacionais e internacionais.
Da mesma forma, a Declaração Final da Cúpula dos Povos foi reveladora ao denunciar: "As instituições financeiras multilaterais, as coalizões a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20 (...) e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferência oficial".
No fim do ano passado fui um dos brasileiros eleito "Parceiro da Paz e Sustentabilidade"e seria homenageado na Conferência da ONU Rio+20.
De acordo com o secretário-geral da Defensoria Social, por intervenção direta do Palácio do Planalto, a homenagem aos "Parceiros da Paz e Sustentabilidade" na Conferência foi inviabilizada. "A homenagem ao jornalista joinvilense Altamir Andrade, editor do Jornal O Vizinho, revelaria ao mundo crimes ambientais cometidos pela Tupy, o que poderia trazer problemas para o Governo Federal, já que o Fundo Previ e o BNDESPAR são acionistas da empresa. Inclusive para Joinville, nestas eleições, pois a indústria é também uma das grandes financiadoras de campanhas e há suspeitas muito sérias da relação da Tupy com o PT", denuncia Leonardo Aguiar Morelli.
Por essa razão, a solenidade foi cancelada, pois a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil e o BNDES Participacões S.A. são os controladores da empresa, acionistas majoritários com 35,81 e 35,77% das ações da maior fundição do mundo do setor.
Uma das reações ao que movimentos sociais e entidades ambientalistas denominam de Rio-20, considerando o "fracasso" da Conferência, é o evento "Diálogos por um Brasil sustentável frente aos desafios da humanidade no século 21 - Avanços e Retrocessos Pós Rio+20". No primeiro encontro desse evento, realizado na Diocese onde atuou o bispo dom Adriano Hypólito, foi anunciado o lançamento do livro "O Gigante Acuado".
A obra revela que um dos mais importantes estuários do hemisfério sul, a Baía Babitonga, há décadas vem acumulando milhões de toneladas de dejetos humanos e industriais, principalmente das indústrias joinvilenses, entre elas a Tupy Fundições S.A.
O local do primeiro fórum "Diálogos por um Brasil Sustentável" merece um resgate histórico.


Considerado por muitos fieis da Igreja Católica um expoente defensor dos Direitos Humanos, em 1976 o líder religioso foi sequestrado e torturado por um grupo parapolicial

Dom Adriano Mandarino Hypólito foi sequestrado na noite de 22 de setembro de 1976 por ser considerado um comunista. Algemado, encapuzado, pintado de vermelho e espancado por um dos temidos grupos da extrema direita que atuava na Baixada Fluminense, o bispo de Nova Iguaçu, então com 52 anos, foi encontrado na rua Japurá, em Jacarepaguá, duas horas depois, nu, com pés e mãos amarrados, banhado de mercúrio e ferido. Era mais uma vítima da ditadura militar brasileira que ainda comandava, agonizante, o país.
Três anos antes, sob sua iniciativa, um repositório de lideranças - dizimadas pela ditadura - fora criado, o Cenfor (Centro de Formação de Líderes). Um ano depois do sequestro do bispo (1977) um grande debate sobre direitos humanos foi impedido e proibido pelas forças de segurança, que cercaram o Cenfor ostentando assustador aparato de guerra.
Em 1979, a Catedral Diocesana e outras igrejas filiadas foram pichadas com acusações ao bispo e à sua linha pastoral. Em 20 de novembro, uma bomba explodiu na Catedral, destruindo o Sacrário do Santíssimo, profanando as hóstias consagradas e danificando o altar lateral do templo. O grupo de direita que se autodenominava 'Vanguarda de Caça aos Comunistas' assumiu a autoria.
No mesmo ano, em Joinville, SC, no mês de abril, também nascia uma associação da sociedade civil organizada com o objetivo de formar líderes, tendo como base o desenvolvimento da oratória, o COL (Clube de Oratória e Liderança).
Dez anos depois (1987), no COL nascia o JOV (Jornal O Vizinho), que em 2001 publicava na capa a reportagem "Montanhas Escondidas" e questionava onde estavam sendo depositados os rejeitos da Tupy Fundições S.A. Desde então, diversas outras matérias sobre o tema (areias de fundições) têm sido pautada no veículo.
Por iniciativa do JOV e apadrinhado pelo COL, em agosto de 2008 nascia o IVC (Instituto Viva o Cachoeira), Oscip ambientalista que tem entre os seus objetivos a recuperação e proteção ambiental dos rios de Joinville e região e da Baía Babitonga.
No último dia do mês de agosto e no primeiro de setembro de 2012 parte da história dessas entidades se cruzam no estado carioca para o anúncio do lançamento do livro que estou ultimando, "O Gigante Acuado" que narra a história de reportagens e denúncias feitas contra a Tupy Fundições S.A. e o destino inadequado de seus rejeitos, as areias usadas no seu processo industrial de manufatura.
Água, Biodiversidade, Energia e Lixo nortearam os debates como temas dos avanços e retrocessos pós Rio+20 no Fórum "Diálogos por um Brasil Sustentável"

No Dia Mundial dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, acontece o lançamento nacional do livro "O Gigante Acuado".
O presidente do IVC, o ambientalista João Carlos Farias, foi convidado especial para representar a  entidade. Por ser um especialista em economia e aproveitamento de água, o que lhe conferiu o título de Dr. Água, Farias foi convidado a visitar o assentamento Antônio Conselheiro, no Mato Grosso. A aproximação de Farias com um dos líderes do projeto, o agricultor Paulo Zocal de Matos, 35, garantiu uma visita do Dr. Água ao assentamento para avaliar um dos seus maiores problemas, a falta de água às mais de 1.300 famílias assentadas. A visita está sendo organizada pela Defensoria Social e conta com o apoio do IVC.
João Carlos Farias (esquerda) em reunião com alguns palestrantes do evento. Ao seu lado, Paulo Zocal de Matos

O assentamento Antônio Conselheiro, segundo Matos, é o maior assentamento rural da América Latina, "fruto de uma das mais heróicas lutas sociais pela ocupação de terras improdutivas que estavam nas mãos do latifúndio, com famílias de Sem-Terras assentados em uma área de 35 mil hectares constantemente ameaçadas por queimadas e que estão abandonadas pelas políticas públicas de reforma agrária há mais de quinze anos".
Em sua apresentação, no "Diálogos por um Brasil Sustentável", Paulo Zocal de Matos, que estuda medicina na Bolívia, também chamou a atenção dos participantes para o que qualifica de uma nova ditadura naquele país. "A comunidade internacional precisa olhar para lá. Índios estão sendo mortos pela polícia de Evo Morales, que é o maior cocaleiro do país. E alguns produtores de coca que não se enquadram às suas determinações, têm suas plantações destruídas. Muita coisa ruim está acontecendo e não ganha os noticiários".

Leia mais sobre o tema neste blog:
http://www.jornalistaandrade.blogspot.com.br/2012/08/dialogos-para-um-brasil-sustentavel.html

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