sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Num "puteiro" realizei a minha mais inusitada consultoria

Era uma manhã primaveril quando atendi o telefone e do outro lado um empresário me solicitou uma visita para avaliar se eu poderia ajudá-lo diante de dificuldades que seu negócio vinha enfrentando. Fiz algumas perguntas, mas ele me pediu para conversarmos pessoalmente indicando-me o endereço na zona sul de Joinville, SC. No dia seguinte eu estava à frente da porta que tinha uma discreta placa identificando "Casa de Massagens". Confesso que minha primeira reação foi acreditar que eu havia anotado errado o endereço. Mas, entrei para me informar e confirmei estar no local certo ao ser atendido por uma mulher de meia idade que antes de qualquer coisa me rastreou como os raios de um leitor de código de barras.
Identifiquei-me. Um sorriso dela, de frustração, que eu só fora saber da própria, alguns dias depois, o por quê. Disse que me aguardava e levou-me ao escritório da administração. Lá estava o empresário e, no mesmo ambiente, duas outras belas mulheres.
A primeira frase dele foi: "Andrade, tô fudido e preciso saber se podes me ajudar". Assim, sem qualquer intimidade o "tô fudido" me deixou consternado, mas respirei fundo (discretamente) olhando para as duas beldades que não demonstravam qualquer constrangimento e, já voltado para ele, pedi que me explicasse exatamente o que era o empreendimento e me relatasse as expectativas com o meu trabalho.
"Já vistes que isso aqui é um puteiro, não é mesmo?". Outro susto e ouvi risinhos das moças; mas tomado por uma "vergonha alheia" não olhei para elas, dessa vez. Dali em diante preferi ignorar a presença das duas que poucos minutos depois era só uma e, um pouco mais tarde éramos só o empresário e o consultor. Acreditem, mas isso me deixou mais a vontade e, com quase uma hora de conversa, tive certeza de poder ajudá-los.
Comecei empreendendo na minha vida como consultor empresarial. Há um quarto de século que deixei de ser "rabo de tubarão para ser cabeça de sardinha". Durante os quase dez anos que trabalhei na ex Cia Hansen Industrial, agora Tigre S.A., posso afirmar que tive uma carreira meteórica com promoções anuais e aumentos salariais presos aos planos de cargos e salários que para mim nunca eram justos considerando o quanto eu incrementava com o meu trabalho o aumento de produtividade e a melhoria da qualidade por onde passava e que resultavam em grandes economias e crescente faturamento.
Tornei-me um especialista nessas áreas (melhoria da qualidade e aumento da produtividade com base na gestão participativa) e fiz implantações pioneiras no Grupo que hoje é um dos maiores do setor no mundo. Essa trajetória pode ser confirmada no meu
sítio pessoal que mantenho na internet.
Eu estava no meu primeiro casamento e gestávamos a minha primeira filha. Decidi que era hora de ganhar o que achava justo e avisei meu superior, que era uma liderança que me ensinou muito, engenheiro Alberto Gerlloff. Conversei com ele e esperei minha "folha de pagamento". O aumento que intercedera veio, mas não no percentual que eu havia pedido. A empresa já ultrapassara, com mais essa intervenção pessoal dele, as regras do jogo do setor de recursos humanos. Demiti-me menos de dez minutos depois e fui trabalhar numa empresa concorrente que me ofereceu salário várias vezes maior; fiquei lá só apenas seis meses, pois eu começava a fazer por eles o que estava fazendo nos últimos nove anos e sabia como isso iria acabar. Decidi antecipar o futuro e demiti-me, novamente, já aproveitando para acompanhar o parto do nascimento da minha filha, que assisti de corpo presente e que depois disso fiquei em casa cuidando dela por seis meses enquanto montava a empresa: Kaizen Treinamento e Assessoria Empresarial.

Quando a criaturinha sentou-se sozinha eu já estava com a empresa montada, legalizada e pronta para o primeiro trabalho. Este, no "puteiro", não foi o primeiro. Mas, o caso mais inusitado. Hoje, só em casos especialíssimos ajudo amigos e conhecidos em seus negócios. Afinal, já estou acumulando quase trinta anos de experiência e minha veia empreendedora tem-me lançado a novos desafios, frequentemente, raramente não acertados. E isso tem feito com que alguns me peçam ajuda, de vez em quando.
A prostituição é uma das profissões mais antigas do mundo. Naquele episódio despi-me, o máximo que pude, do preconceito, e assumi a personagem do profissional que eu era na época. Anotei todas as informações que extraí do empresário. Daí pra frente tudo foi mais fácil.
Por que esse tema agora?
É que na tarde chuvosa de 25 de agosto de 2011, passei em frente ao local com um amigo (Dr.Água) e relembrei a experiência contando-a. Então, vi que essa é uma história "excitante" - confirmada pela reação dele - e por isso decidi socializá-la com meus leitores.
A casa tinha 20 mulheres. Marquei uma reunião com todas na semana seguinte indicando que elas deveriam estar vestidas como o fazem para receber os seus clientes, ou potenciais clientes.
Foi numa segunda-feira. Fim de tarde. Na maior sala da casa lá estavam elas. Pedi para que acendessem todas as luzes. Tomei um susto. Fiz uma análise do "produto" como se fosse "consumidor".
Depois desse primeiro contato visual coletivo expliquei detalhadamente o que eu faria ali e, para minha surpresa elas já sabiam e estavam animadíssimas. Todas, sem exceção, foram muito solícitas comigo durante todo o trabalho, o que me facilitou sobremaneira, apesar de algumas terem sofrido com isso. Estas, eu nunca mais as vi.
Anotei como eram os trajes de cada uma, maquiagem, sensualidade, postura, trejeitos.
Criei clima de descontracão ampliada com o fornecimento de bebida para todas, pois concordo com um sábio que disse: "A humanidade está três doses atrasada". No meio da noite todas já estavam distante desse "atraso". Foi quando comecei minha "inspeção individual" num outro ambiente, menor e ainda mais iluminado. Cada uma delas ficava em torno de cinco minutos como vieram ao mundo para algumas fotos.

O quadro que se apresentou foi desanimador.
- Dez delas nem deficiente visual se arriscaria pois o tato revelaria os excessos de pele, gordura e irregularidades de pele. Em algumas delas a "pelhanca" escondia mais da metade de onde deveriam estar os pêlos pubianos. Visualmente eram "produtos de péssima qualidade" e que dificilmente seriam consumidos. Pude confirmar isso posteriormente em anotações pouco organizadas do faturamento da casa.
- Cinco delas o "consumidor" precisaria ter bebido meia garrafa de um bom uísque para encarar.
- Três eram mulheres que homens mais exigentes dariam uma espiada mas não fariam muito esforço para conquistá-las.
-Duas, aquelas que estavam na sala do empresário quando eu cheguei, eram disputáveis.
Quando cheguei lá a casa tinha 20 mulheres e média de 15 programas por noite.
Aquela que me recebeu no primeiro dia era uma do grupo das três e pensara que eu era um "cliente" novo. Ao saber que se tratava do consultor esboçou aquele sorriso frustrado...
A primeira decisão foi reduzir o quadro. Imediatamente cinco delas foram demitidas, aquelas (dentre as dez) que raramente eram "contratadas". Com as 15 tive uma conversa sobre mudanças comportamentais, de vestuário, de linguajar etc. Acreditem, as mais feias eram as mais resistentes às mudanças. Quinze dias depois a casa tinha só dez mulheres trabalhando. Quase fui dispensado. As duas beldades eram quase exclusivas do empresário. Tive de convencê-lo de que "Onde se ganha o pão não se come a carne". Foi difícil, por uma delas ele estava apaixonado.
A casa adotou como estratégia manter aquelas cinco mais atraentes e belas sempre na recepção, com ambiente mais iluminado. As outras cinco no ambiente do bar, mais escuro. As duas "tops"eram as que menos se insinuavam e serviam de "isca" para as demais.
No fim do trabalho a casa faturava quatro vezes mais e tinha metade do quadro. A produtividade aumentou para média de quatro programas por noite por trabalhadora.
As duas beldades tinham preços quase proibitivos para os frequeses que a casa tinha. Os preços diminuíam na mesma proporção da "qualidade" do "produto". A clientela aumentou consideravelmente. Se antes as belas se perdiam no meio das feias, agora elas se destacavam e eram as imagens marcantes nos ambientes iluminados. A clientela mudou.
Encontrei alguns "figurões" lá, na última semana. Pensavam que eu era cliente, também. Agora, se algum deles ler isso, vai saber que onde eles se divertiam eu trabalhava.
As duas belas se entregaram de corpo e alma para os clientes da casa e o empresário seguiu o meu conselho. Quando o encontrei, alguns meses depois, ele estava muito bem. "Tenho uma só para mim lá na Marlene". E ele acreditava no que dizia... Mas, estava feliz e isso é o que importa, não é mesmo?

Um comentário:

  1. Parabéns pelo trabalho de Consultoria, mais uma vez comprovou que é um ótimo profissional e viu os resultados.
    Como já havia comentado, adoro seu jeito de escrever, nos leva a viver junto a história.

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