O filme "5X Favela" foi fio condutor da palestra do jornalista
Zuenir Carlos Ventura (Além, Paraíba, 1 de junho de 1931) é jornalista e escritor. Ganhou o Prêmio Jabuti em 1995, na categoria reportagem, com o livro Cidade Partida.
Palestrante convidado do Terceiro Festival Paulínia de Cinema ele discutiu o livro e aproveitou o fime "5X Favela - Agora por nós mesmos" para nortear o debate.
Em 1993, Zuenir Ventura frequentou, por dez meses, uma favela carioca para escrever o livro Cidade Partida. "Foi uma experiência que mexeu muito com a minha cabeça porque a favela ficava ao lado da minha casa e era tão distante. Eu conhecia a Europa e não conhecia ali".
Ventura diz que pensava encontrar uma população raivosa, vingativa, mas surpreendeu-se com uma sociedade alegre, que queria justiça, sim, mas que não era odiosa. "Isso modificou todos os clichês, os meus estereótipos de violência das favelas". O filme 5X Favela retrata exatamente isso, e os moradores do elenco do filme são unânimes nesse discurso. "Pobre também ri", disse uma das atrizes no debate.
Na sua experiência, Ventura diz que havia, sim, um grupo que representava 0,01% da população da favela formada de criminosos fortemente armados que dominavam a comunidade. "Saí de uma ditadura militar e encontrei uma ditadura social na favela.
Eles haviam se armado mais que a polícia. Já naquela época se dizia que a única maneira de quebrar essa ruptura, segregação social, era através da cultura".
Ventura está convencido que a economia, o social separam, mas a cultura une, "como bem sabemos, o carnaval faz isso".
Na favela, enquanto a frequentou nos dez meses para escrever o livro, ele diz que o policial é quem subvertia a ordem pública daquela comunidade dominada pela lei do traficante. "Os meus momentos de medo eram quando a polícia chegava na favela".
Na coletiva de imprensa que aconteceu antes da palestra, eu e Zuenir Ventura também participamos com outras dezenas de pessoas. Aliás, foi o filme que mais atraiu para o debate. Tomei a iniciativa de pedir para um dos atores comentar a sua personagem (Feijão).
Com menos de 1,60m, Washington Rimas, que na vida real tem o apelido de Tsiu, surpreendeu alguns (como eu) ao relatar que foi chefe do tráfico por muitos anos. Depois, durante o almoço, Tsiu me disse que ganhava muito dinheiro. "Eu faturava uns R$ 200 mil reais por semana". Durante esse período ele tinha tudo que desejava ter materialmente. "A mídia mostra coisas que não podemos ter. Isso me levou ao crime. Então eu ganhava muito dinheiro, comprava tudo e tinha muitas mulheres que me queriam, nesse período".
Agora ator, ele viaja o mundo fazendo palestras convidado por entidades e governos que o tem como exemplo de que é possível resgatar o ser humano do crime. Segundo o jornalista Zuenir Ventura, além do resultado do filme ser surpreendente como produção artística, de qualidade, a obra é uma "prova" da capacidade da arte de unir pessoas, classes sociais e recuperar cidadãos.
Tsiu arrancou gargalhadas ao comentar que em recente viagem que fez aos EUA convidado para fazer palestras em vários estados norte-americanos, ao chegar naquele país ele recebera um formulário com dezenas de perguntas. Segundo o ator, perguntas do tipo: Você já roubou? Já comercializou armas? Já traficou etc. "Eu fui colocando, sim, sim, sim, sim. Só numa delas eu escrevi não. Se eu já havia praticado o terrorismo".
Sua chegado aos EUA virou caso para a CIA. "Tô progredindo. Pra quem vivia fugindo da Polícia Militar agora tem a CIA investigando!!!", comparou o ator.
Na minha opinião, o filme "5X Favela" tem tudo para se transformar numa obra de sucesso nacional e internacional. Para mim, uma das melhores obras brasileiras da sétima arte que já vi na telona.
Os diretores do filme e alguns atores são moradores da favela. Para Zuenir Ventura o fime "5X Favela" é um exemplo do fenômeno da “Invasão do Centro pela Periferia".
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